Todos querem (e merecem) um lar harmonioso
A vida em grupo é dinâmica, com inúmeras formas de organização familiar conforme crenças, gostos, culturas, necessidades, interesses.
O elemento comum em todos esses exemplos é o desejo da pessoa de ser feliz e ter um ambiente harmonioso.
O presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, no livro A Família Criativa, apresenta reflexões sobre como viver de maneira criativa.
Sua análise começa com a definição do que é família e percorre temas fundamentais como papel da mãe e do pai, educação espiritual, individualidade e senso de responsabilidade em relação ao mundo. Esta é a primeira parte de uma matéria do BS sobre essa importante obra.
A família é um organismo vivo
As conexões entre as pessoas são invisíveis aos olhos. Mas reais no coração.
O núcleo familiar é formado por laços de amor entre pais, filhos, avós etc. São fios invisíveis, dinâmicos, ricos e repletos de significado. O presidente Ikeda afirma:
“A família pode ser descrita como um organismo. Se pensarmos na sociedade como um corpo humano, então cada família é um grupo de células. Algumas famílias movem-se por esse corpo, enquanto outras permanecem fixas. Cada unidade familiar deve viver em harmonia com a sociedade como um todo; caso contrário, não sobreviverá. Se, por outro lado, cada uma das células não funcionar plenamente, com toda a vitalidade, não se pode esperar que a sociedade progrida. A família é como um grupo de células que se desenvolve por meio dos esforços de cada um dos integrantes. Ela é a unidade básica que determina a direção da sociedade. O amor é como o sangue que circula por todo o corpo, mantendo os membros unidos. A família é um organismo no qual o amor pode ser compartilhado entre marido e mulher, pais e filhos, irmãos e irmãs” (A Família Criativa, p. 19).
Um lar saudável é composto por pessoas vigorosas, que doam aos outros mais do que recebem. Que cuidam mais do que esperam ser cuidadas.
Uma sociedade sadia é formada por famílias revitalizadas, que não vivem apenas para se autoproteger; que, por meio da compaixão, da coragem e da sabedoria, inspiram outros a vencer.
Uma família criativa é vivaz e se dedica ao bem-estar de si e dos demais.
Criatividade na hora do aperto
Quando a economia oscila e os preços sobem, o lar é o lugar mais afetado.
Pessoas criativas se unem na hora do aperto. É importante refazer as contas, controlar o mercado, cortar o supérfluo. As refeições devem ser controladas e com o menor gasto possível. É preciso reagir diante das dificuldades com otimismo e sabedoria. Vale dar ideias, cooperar, unir forças para vencer problemas. Lamentação e acusação mútuas não têm nada de criativo.
“A família criativa ou lar criativo a que me refiro é como uma escola em que as pessoas se empenham para o seu próprio aprimoramento e de outros, valendo-se do amor que flui entre eles. Acredito que são as pessoas criativas que trarão a mudança ao mundo” (Ibidem, p. 24-25).
O presidente Ikeda propõe a sociedade criativa, uma rede de grupos familiares dinâmicos que transbordam amor, compaixão, inteligência e radiância.
Inovar, reinventar
Revitalizar a família significa tornar cada pessoa feliz.
Segundo o budismo, ser feliz é ser forte. Quando cada indivíduo fortalece sua vida espiritual, enriquece seu coração e se dedica a encorajar mais do que cobrar dos demais, uma brisa saudável de esperança e coragem começa a soprar dentro de casa.
O presidente Ikeda afirma que “O lar não é simplesmente o espaço físico que alguém ocupa. É um local de relações humanas” (Ibidem, p. 28). O prazer de voltar para casa depois de um dia desgastante de trabalho, por exemplo, é proporcional ao encantamento que cada familiar tem pelo outro.
“O lar é onde o indivíduo se revitaliza; é o solo fértil que provê nutrientes nutrientes para a árvore da vida humana. Sem o amor, a compaixão e a educação que o lar provê, não podemos nos desenvolver como seres humanos. O lar é de fato o centro da sociedade humana” (Ibidem, p. 29).
Sociedade saudável e segura se faz com famílias revitalizadas.
É fundamental que o foco esteja no ser humano; a casa deve ser uma mini universidade da criatividade e do encorajamento na qual o intercâmbio de experiências e elogios impulsione cada um a avançar, a achar boas saídas para problemas e a criar novos laços que rompam os muros e revigore a sociedade.
Mesmo em casa encoraje as pessoas sem buscar recompensas
“A família deve basear suas atividades na compaixão e no amor; sem procurar recompensas, seus membros devem se empenhar para estabelecer um ambiente no qual essas emoções possam prosperar. Nesse sentido, um esforço muito grande é requerido” (Ibidem, p. 30).
O foco está no indivíduo: ele deve se esforçar sem esperar algo em troca. Doar-se mais do que cobrar. Elogiar mais do que criticar. Apoiar mais do que exigir tratamento especial.
O sol ilumina tudo à sua volta porque primeiro de tudo “queima” a si mesmo, benevolentemente. O sol não depende do elogio nem da aprovação de ninguém para continuar brilhando. Um lar deve ser aquecido pelo coração que transborda energia vital de seus componentes.
Quem não brilha depende da energia dos outros e isso cria uma espiral de acusação e sofrimento. É preciso quebrar esse ciclo rompendo a concha do ego: “Se uma família é ou não criativa — é determinado unicamente pelo grau de humildade de cada um de seus integrantes” (Ibidem, p. 31).
O diálogo nutre e harmoniza
Dentro de casa podemos ser autênticos. E isso muitas vezes revela o lado sombrio das pessoas:
“No lar a pessoa se sente livre para deixar cair suas armaduras e revelar os próprios sentimentos. Consequentemente, em nenhum outro lugar o lado feio e angustiado da natureza humana é tão evidente. É inevitável que, quando as pessoas abandonam suas restrições e permitem seu lado menos atraente aparecer, o resultado seja frequentemente o conflito” (Ibidem, p. 33).
O presidente Ikeda propõe que cada integrante da família se esforce com sinceridade mesmo nas pequenas tarefas. Lapide seu caráter dentro de casa, cultivando a integridade e fazendo pequenas gentilezas aos demais.
Surpreenda as pessoas, elogie-as, faça de cada momento de convivência um ato de aprimoramento, de compaixão. Revitalizar é trazer nova vida para dentro de casa.
O diálogo é a base de tudo isso. Dialogar, ensina o presidente Ikeda, é discutir as questões cotidianas que preocupam os envolvidos incluindo o que é agradável e também o que é doloroso. É preciso conversar com honestidade e sinceridade. Ser amado e compreendido requer que você seja confiável. Conquiste isso falando aberta, franca e respeitosamente sobre as questões que mais importam.
Na próxima edição deste caderno, abordaremos a educação em casa e a individualidade.
“Um lar deve ser um local onde uma pessoa pode se revitalizar para o dia seguinte. O diálogo ideal é aquele que possibilita a compreensão mútua em todos os tipos de assuntos”
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Jossei Toda, primeiro presidente da Soka Gakkai e sua família |
Sabedoria e coragem diante dos dramas da vida
A prática budista nos revigora para enfrentarmos com otimismo os mais dramáticos desafios. Um episódio do romance Revolução Humana conta a história de Kinu Sassai e a transformação familiar
A prática budista nos revigora para enfrentarmos com otimismo os mais dramáticos desafios. Um episódio do romance Revolução Humana conta a história de Kinu Sassai e a transformação familiar
“Hoje vamos promover uma reunião bem alegre!”
O Sr. Josei Toda (segundo presidente da Soka Gakkai) chamou uma mulher que estava com a fisionomia triste num canto da sala. “Sra. Sassai, como tem passado ultimamente?”
Ela era recém-convertida e Josei Toda sabia dos inúmeros problemas de desarmonia familiar que enfrentava. Estava ameaçada de perder o emprego na fábrica onde trabalhava e, além disso, o marido estava doente e era violento. A Sra. Sassai era uma mulher batalhadora e havia cuidado de seus filhos com afinco, mas agora sentia suas forças se esgotarem.
Foi num momento desesperador da vida que ela recebeu o Gohonzon. As esperanças voltaram, porém o marido se opôs à sua prática.
Durante a atividade ela desabafou: “Disseram que, ao me devotar a esta religião, tudo iria melhorar. Apesar disso, a situação se tornou cada vez pior. Ontem mesmo meu marido me agrediu violentamente e me obrigou a desistir da Soka Gakkai. O temperamento agressivo dele está pior do que antes da conversão. Como pode? Talvez esta religião esteja errada. Mas muitas pessoas me dizem que esta prática religiosa é absolutamente correta. Não entendo mais nada. Não existe no mundo mulher mais infeliz que eu!”.
Ela continuou sua reflexão: “Se esta religião é correta, então a oposição do meu marido está me mostrando que devo me separar dele. Não aguento mais! É isso mesmo! Vou me divorciar. Posso até sofrer depois, porém, comparado com o sofrimento atual, não deve ser nada”.
A Sra. Sassai foi à atividade de palestra daquela noite determinada a anunciar a separação. Ao ser chamada pelo presidente Josei Toda, ela disse: “Mestre, já decidi me separar do meu marido a todo custo!”.
O presidente Toda observava silenciosamente a fisionomia desolada de Sassai.
Ele iniciou suas palavras com ênfase:
“Não que eu não entenda o tamanho do seu sofrimento, mas não posso interferir na sua questão conjugal. Entretanto, permita-me lhe dar um conselho. (...)
Para provar o valor da ação da sua fé, empenhe-se seriamente de seis meses a um ano. Esforce-se sinceramente e se torne uma figura central da revolução familiar. Prossiga com muita coragem e se dedique com afinco visando mudar seu destino para melhor”.
A Sra. Sassai levantou a face com um olhar desapontado e desanimado e, em seguida, abaixou a cabeça.
“Sei o que a senhora está pensando: ‘Ninguém pode resolver meu sofrimento, nem mesmo o Sr. Toda. O que devo fazer, então? Quero saber o que eu faço’. Acertei seu pensamento?”, continuou ele, sorrindo.
“A senhora é uma pessoa ingênua. Está querendo a pílula para a cura do seu problema, não é? Se tivesse uma pílula tão formidável para isso, eu a ofereceria o quanto antes. Até pode haver um comprimido para resfriado; mas para a desarmonia conjugal, não há absolutamente nenhuma pílula contra esse problema tão ingrato. O vírus da incompatibilidade conjugal, creio, provavelmente não será descoberto. A origem desse mal será evidente quando se analisar pelo prisma da simultaneidade de causa e efeito. Desde que a senhora entrou para a Soka Gakkai, seu marido vem protestando violentamente contra a sua prática religiosa. Isso é efeito de causa remota e não um fato espontâneo por mera coincidência. Nossa religião possui força. É uma religião viva.
Apesar de possuir o Gohonzon, a senhora continua sofrendo dessa maneira. Por acaso sabe o motivo de isso acontecer? Alguns podem dizer que ‘o erro está no seu sentimento’ ou que ‘o mal é seu marido, que provoca oposição’. Isso não é o fundamental. A base é a Lei Mística.
Entretanto, sua situação não se resolve apenas compreendendo a lei da causalidade da Lei Mística. Para solucionar de modo radical questões dessa natureza, existe o Gohonzon. É para isso que Nichiren Daishonin deixou esse objeto de devoção para nós. Antes de tudo recite daimoku ao Gohonzon e persista nos esforços para melhorar sua vida diária por meio da própria revolução humana.”
A lógica, a benevolência e a verdade nas palavras de Josei Toda finalmente tocaram o coração da Sra. Sassai como um leve toque musical num instrumento de corda.
“Seu problema vai se desviar para a esquerda ou para a direita, dependendo única e exclusivamente da sua decisão de enfrentar com devoção convicta ou deixar de praticar levada pela dúvida. Enfrente-o, ciente de que seu destino ficará mais límpido cada vez que seu marido protestar. Com certeza, mais tarde entenderá o que eu digo.
Quando a causa do mau destino é transformada, o que acontece? O destino é transformado, e a vida muda para melhor.
Comparada com a eternidade da vida, mais meio ano ou um ano de esforço na prática é sentido como um instante. Já que não há outro caminho para a mudança radical da sua família, por que não prossegue com sua fé e prática daqui para a frente com muito mais coragem? Garanto com toda a minha vida que terá êxito.”
A Sra. Sassai nada respondeu, apenas começou a chorar. Não era tristeza nem desespero, eram lágrimas de emoção com a sinceridade desse homem que orientara uma infeliz mulher que lhe era completamente estranha até aquele momento. Nunca alguém dedicara tanta energia e esforço ao problema dela. Ela estava impressionada como uma criança deseja carinho e confiou nas palavras de Josei Toda, e por isso derramou ternas lágrimas. Ela disse em voz baixa: “Mestre, desculpe-me”.
Ele respondeu: “Não há o que desculpar. Apenas quero dizer que o resultado não aparece se fizer uma prática religiosa irresponsável. Esforce-se ao máximo!”.
O desfecho da história não é contado no romance, contudo, manter uma sólida determinação no Gohonzon, como a Sra. Sassai manifestou em transformar a destino lastimoso poderá ser o princípio da erradicação de qualquer drama existente.
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