quinta-feira, 15 de junho de 2017

Zuiho bini

Zuiho bini



O budismo ensina o princípio de zuiho bini, que significa adaptar os preceitos à localidade, ou seja, nas questões as quais o Buda não permitiu ou proibiu expressamente, pode-se agir de acordo com o costume local, desde que o espírito fundamental do budismo não seja violado.
A importância desse princípio é atestada na própria história da propagação do budismo.
Muitos anos após a morte de Sakyamuni, a Ordem Budista dividiu-se em várias escolas pertencentes a duas principais correntes: a Mahayana e a Hinayana (algumas vezes a palavra hinayana é usada para referir-se ao Budismo Theravada). A primeira era composta por monges progressistas e a segunda, por monges conservadores.
A corrente Mahayana partiu da Índia e percorreu o norte da Ásia, chegando à China, Coréia e Japão. Por onde passou, incorporou a cultura e os costumes locais, evoluindo com o tempo e tornando-se acessível às pessoas.
O budismo Hinayana expandiu-se para o Ceilão (atual Sri Lanka) e então para os países do sudeste da Ásia e manteve as práticas budistas primitivas como austeridades e meditações. Com o tempo, as escolas seguidoras dessa corrente perderam a força e muitas delas desapareceram.
O Budismo de Nitiren Daishonin derivou da corrente Mahayana. Dentre os vários ensinos mahayana, o Sutra de Lótus, a essência desse budismo, era o mais profundo, capaz de direcionar as pessoas ao caminho da felicidade na era conturbada dos Últimos Dias da Lei pelo fato de ser universal e fundamentado na realidade.
A propagação do budismo em escala mundial, a partir de 1960, também deveu-se à aplicação do princípio de zuiho bini.
Daisaku Ikeda, na época terceiro presidente da Soka Gakkai, considerou esse importante princípio para assegurar o sucesso da propagação da filosofia budista em países ocidentais, no caso os Estados Unidos, o Canadá e o Brasil.
No capítulo “Alvorecer”, da Nova Revolução Humana, Shin-iti Yamamoto (pseudônimo de Daisaku Ikeda na obra) narra sobre esse princípio: “Precisamos pensar também na questão de realizar o Gongyo sentado na cadeira. Para quem não está acostumado a ficar de joelhos, com certeza é um sofrimento terrível que pode ser até uma tortura. Desse jeito, mesmo recitando o Gongyo, não é possível sentir alegria. Por isso, o budismo ensina o princípio de zuiho bini. Isto quer dizer que, desde que se mantenha fiel ao princípio do Budismo de Daishonin que é a fé no Gohonzon, a forma como propagá-lo e ensiná-lo pode ser adaptada aos costumes e hábitos de cada localidade e de acordo com as características e tendências da época. (...)
“O meu maior receio é que os dirigentes caiam na infelicidade de aplicar o mesmo método de atuação no Japão em todo o mundo, considerando-o como o único e absoluto meio. Isso seria como importar para todas as pessoas do mundo os modos típicos do Japão. Se pensar que essa é a maneira correta de fazer a prática da fé, o budismo será visto como um ensino estreito e limitado. Dessa maneira, em vez de budismo, será chamado de ‘religião japonesa’. O Budismo de Nitiren Daishonin não é um ensino apenas para os japoneses, é uma religião para toda a humanidade.”1
A nova forma de realização do Gongyo adotada pelos membros da SGI e a liberdade com que cada organização nos 183 países e territórios desenvolve suas atividades também são exemplos da aplicação do princípio de zuiho bini.
No mundo inteiro, o movimento pela paz, cultura e educação floresce e se propaga, mantendo como base os ensinamentos de Nitiren Daishonin, ou seja, o mais profundo respeito pelo ser humano.

Transformação do veneno em remédio (hendoku iyaku)

Transformação do veneno em remédio (hendoku iyaku)


O budismo ensina que os efeitos de nossas ações, boas ou más, são sentidos na nossa própria vida. Essa é a lei infalível de causa e efeito. Assim sendo, todos os nossos sofrimentos derivam das más causas que cometemos. Porém, o Gohonzon possui os poderes da Lei e do Buda e nós, os poderes da fé e da prática. Quando esses quatro poderes se unem, todo sofrimento pode ser transformado em alegria. Esse é o princípio de hendoku iyaku ou a transformação do veneno em remédio.
A expressão “transformar o veneno em remédio” apareceu pela primeira vez no Daitido Ron (Tratado sobre o Sutra da Perfeita Sabedoria) de Nagarjuna, um estudioso do Budismo Mahayana que viveu na Índia entre o segundo e o terceiro século. Nessa obra, Nagarjuna compara o Sutra de Lótus a “um grande médico que transforma o veneno em remédio” e ensina que as pessoas dos dois veículos (Erudição e Absorção) podem atingir o estado de Buda.
Os dois veículos, nesse caso, representam aqueles que se dedicam à busca da iluminação por meio da erradicação dos desejos conforme ensinado pelo Budismo Hinayana. Contudo, o Sutra de Lótus ensina que todas as pessoas, sem exceção, mesmo aquelas dos dois veículos, podem atingir o estado de Buda. Por essa razão, Nagarjuna comparou-o a um grande médico que transforma o veneno em remédio.
Nitiren Daishonin interpreta esse princípio num sentido mais amplo e universal. Ele nos ensina que podemos transformar os três caminhos — dos desejos mundanos, do carma e do sofrimento — nas três virtudes do Buda — as propriedades da Lei, da sabedoria e da liberdade.
No Ongui Kuden (Registro dos Ensinos Orais) consta: “Agora, Nitiren e seus seguidores recitam o Nam-myoho-rengue-kyo... queimam a madeira dos desejos mundanos e revelam a chama da sabedoria iluminada.” Nitiren Daishonin afirma que por existirem os desejos mundanos, a iluminação pode ser atingida.
A nossa vida está repleta de desejos mundanos. Mesmo sem eliminá-los podemos purificá-la e atingir a iluminação. Desejos mundanos indicam ilusão, ao passo que a iluminação é o despertar para a verdade, ou seja, o reconhecimento do potencial do estado de Buda inerente em nós. Quando elevamos nossa condição de vida ao estado de Buda, lançamos luz sobre os desejos mundanos ou ilusões. Assim, o que era sofrimento dá lugar à alegria e os problemas se transformam em oportunidades para o nosso crescimento. Essa é uma forma de descrever o processo da revolução humana. Os relatos de experiência apresentados nas reuniões elucidam perfeitamente o princípio da transformação do veneno em remédio. As pessoas não poderiam relatar sobre os benefícios da prática sem antes terem enfrentado obstáculos. Tampouco poderiam falar com convicção de sua alegria sem terem vencido os sofrimentos.
Sobre o conceito de hendoku iyaku, o presidente da SGI, Daisaku Ikeda, disse: “A Lei Mística que Nitiren Daishonin revelou é o princípio que permite que os efeitos negativos sejam transformados em benefícios e o veneno em remédio. Portanto, não importam os atos que tenham cometido em existências prévias ou o carma que tenham criado no passado, jamais devem ser vencidos por eles. É vital que considerem tudo de uma forma positiva e construtiva deste momento em diante, e que vivam vigorosamente tendo como base a sua fé.
“Um verdadeiro praticante deste budismo deve ser capaz de sobrepujar os efeitos do mau carma e assegurar uma vida de vitória em meio à realidade da sociedade. Uma vida de corajosa recitação de Daimoku ao Gohonzon, a fonte de ilimitados benefícios, é centena de vezes mais valiosa do que aquela que sempre se encontra presa ao carma do passado. Somente praticando dessa maneira é que podem convencer as pessoas do poder do Gohonzon e abrir amplamente o caminho do Kossen-rufu.”1
Uma pessoa que possui essa firme convicção pode desfrutar a verdadeira felicidade e liberdade.Y Nota: 1. Buddhism in Action (Budismo em ação). Tóquio, NSCI, 1988, vol. 3, pág. 71.

Prática individual e prática altruística (jigyo keta)

Prática individual e prática altruística (jigyo keta)


Quando o poeta inglês John Donne escreveu no século XVII, “Nenhum ser humano é uma ilha, ninguém vive somente para si, todos fazem parte do continente, uma parte da terra firme”, ele expressou uma premissa básica do Budismo Mahayana. Ninguém existe isoladamente. Estamos ligados aos nossos pais que nos conceberam e nos criaram, aos professores que nos educaram e aos amigos que nos incentivaram. Estamos também unidos àqueles com quem nunca nos encontramos, mas que nos beneficiam plantando as frutas e verduras que comemos, confeccionando as roupas que vestimos, escrevendo os livros que nos transmitem conhecimento, enfim a uma infinidade de pessoas.
Essa compreensão deu origem ao que o budismo chama de caminho do bodhisattva. Um bodhisattva é aquele que se esforça para atingir a iluminação e para que outros também possam atingi-la. Ele realiza os dois tipos de prática budista: a prática individual (jigyo) e a prática altruística (keta).
A prática individual consiste, por exemplo, da recitação do Gongyo (liturgia do Budismo de Nitiren Daishonin) e do Daimoku (Nam-myoho-rengue-kyo) diariamente, da participação nas diversas atividades e da dedicação ao estudo do budismo.
Como exemplos de prática altruística, podemos citar os esforços que realizamos para ensinar sobre o Gohonzon aos outros (Chakubuku) e as visitas para incentivar alguém a aprofundar a fé no budismo. Em termos de benefícios, não há distinção entre os dois tipos de prática, ou seja, a realização tanto de uma como de outra, beneficiam tanto a nós próprios como aos outros. Por exemplo, o Daimoku que recitamos beneficia a nós próprios e àqueles a quem dedicamos nossas orações. Os esforços que realizamos para incentivar os que se encontram em dificuldades beneficiam a nós próprios também. Quando uma pessoa inicia a prática e consegue comprovar a veracidade do budismo, esse benefício não é desfrutado somente por ela, mas por quem lhe ensinou essa filosofia. Isso se deve à profunda relação que temos com essas pessoas e às causas extremamente positivas que realizamos com essas nobres ações.
É por essa razão que ouvimos com freqüência que o caminho mais seguro para nossa revolução humana é a prática do Chakubuku.
Na escritura “Questões sobre os Três Grandes Ensinos Fundamentais”, Nitiren Daishonin declara: “O Daimoku que Nitiren recita agora no início dos Últimos Dias da Lei é o Nam-myoho-rengue-kyo que abrange tanto a prática individual como a altruística.” (Gosho Zenshu, pág. 1.023.) Ele afirma também o seguinte na escritura “Perguntas e respostas sobre abraçar o Sutra de Lótus”: “Recite resolutamente o Nam-myoho-rengue-kyo e recomende aos outros que façam o mesmo, isso permanecerá como a única lembrança de sua presente vida neste mundo humano.” (Os Escritos de Nitiren Daishonin, vol. 1, pág. 166.)
Com base nessas frases, devemos recitar o Daimoku acreditando no Gohonzon e empenharmo-nos em ensinar sobre seus benefícios às demais pessoas. A fim de atingirmos as principais metas como praticantes do Budismo de Nitiren Daishonin — a revolução humana e o Kossen-rufu (paz mundial) — precisamos nos empenhar nas duas práticas: individual e altruística. Essas duas formas de prática são como as rodas de um carro, uma completa a outra.

Os oito ventos (happu)

Os oito ventos (happu)


Os oito ventos são oito condições que impedem as pessoas de avançar ao longo do caminho da iluminação. Conforme mencionados no Butsujikyo Ron (Tratado sobre o Sutra do Estágio do Estado de Buda) e em outras escrituras, eles são: prosperidade, declínio, desgraça, honra, elogio, censura, sofrimento e prazer. Os seres humanos são freqüentemente dominados por seus apegos à prosperidade, honra, elogio e prazer, ou então por sua aversão ao declínio, desgraça, censura e sofrimento.
Na carta intitulada “Os oito ventos” endereçada a seu discípulo Shijo Kingo, Nitiren Daishonin diz: “Um homem verdadeiramente sábio não será arrebatado por nenhum dos oito ventos: prosperidade, declínio, desgraça, honra, elogio, censura, sofrimento e prazer. Ele não se inflama com a prosperidade nem se desespera com o declínio. Os deuses celestes seguramente protegerão aquele que não se curva diante dos oito ventos.” (As Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. 3, págs. 201–202.)
A mente humana se altera com a mesma facilidade que o vento muda de direção.
O presidente da SGI, Daisaku Ikeda, discorreu sobre esse conceito em um de seus discursos. “A palavra ‘vento’ significa ‘agitar’. Esses ventos estão em constante movimento e não cessam por um instante sequer, assim como nossa mente.
Os ‘oito ventos’ são assim chamados porque causam constante agitação. Isso também é explanado nos sutras. “Os oito ventos são divididos em duas categorias: ‘os quatro ventos favoráveis’ — prosperidade, honra, elogio e prazer — e os ‘quatro ventos desfavoráveis’ — declínio, desgraça, censura e sofrimento.” (Guia de Orientações Líder, setembro de 1986, págs. 34–35.)
Na passagem final dessa carta a Shijo Kingo, Daishonin recomenda: “Nunca perca a sua compostura. Não seja controlado por seus desejos, nem pelo seu interesse por status nem por seu temperamento.”
Qual seria então a chave para as pessoas se fortalecerem a ponto de não serem abaladas pelos oito ventos, uma vez que a vida é feita de momentos bons e maus, de alegrias e tristezas, de altos e baixos, de vitórias e derrotas? A resposta está associada a um outro conceito budista: os Dez Mundos ou Dez Estados da Vida (Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranqüilidade, Alegria, Erudição, Absorção, Bodhisattva e estado de Buda).
Um indivíduo que se deixa influenciar por problemas tanto grandes como pequenos possui uma condição de vida baixa. Pode-se dizer que as pessoas nas condições de vida de Inferno a Absorção estão sujeitas a sucumbir à influência dos oito ventos. A recitação do Nam-myoho-rengue-kyo e a dedicação séria e sincera às atividades que visam à paz mundial e à felicidade da humanidade são ações que elevam a condição de vida das pessoas, pois são objetivos que estão muito acima dos oito ventos.
Como seres humanos, não há nada de errado em desejar a prosperidade, merecer a honra e o elogio, ou então desfrutar os prazeres da vida, pois tudo isso faz parte da vida. O problema está no apego demasiado, ou seja, de as pessoas viverem em função de coisas que são efêmeras. Dedicar-se ao nobre propósito do Kossen-rufu ou da paz mundial e felicidade de todos possibilita elevar e fortalecer a condição de vida de uma pessoa tal qual a de um bodhisattva. No Sutra Shiyaku, uma escritura budista, consta: “A mente de um bodhisattva que não sucumbe aos oito ventos é tão firme e impassível quanto o Monte Sumeru.” Uma pessoa com essa condição de vida também não vacila quando enfrenta o declínio, a desgraça, a censura ou o sofrimento. Ela não se deixa levar ao sabor dos oito ventos, ao contrário, enfrenta-os e segue adiante em seu caminho para o autodesenvolvimento e a felicidade.

Os dez mundos (estados)

Os dez mundos (estados)


O budismo tem como foco principal a vida. A cada momento experimentamos alegrias e sofrimentos. Por essa razão o conceito dos Dez Mundos consiste num dos mais importantes princípios no budismo. Eles são interpretados como condições potenciais de vida inerentes a cada indivíduo. As mesmas condições experimentadas por uma pessoa numa situação constante de miséria podem ser uma fonte de desafio e satisfação para uma outra. Fortalecer nosso estado interior de forma a resistirmos e até mesmo transformarmos as condições mais difíceis e adversas é o propósito da prática budista.
Com base no Sutra de Lótus, Tient’ai, um erudito budista chinês do século VI, desenvolveu um conceito que classifica a experiência humana em dez estados, ou “mundos”. Seu ensino dos “Dez Mundos” foi adotado e aprofundado por Nitiren Daishonin que ressaltou a natureza subjetiva e interior desses mundos. Daishonin afirmou a esse respeito: “Considerando a questão de onde estão o Inferno e o Buda, um sutra diz que o Inferno está debaixo da terra, enquanto outro diz que o Buda está no oeste. Entretanto, um pensamento mais cuidadoso esclarecerá que ambos existem em nós próprios.” (As Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. 1, pág. 413.)
Ordenados do menos ao mais desejável, os Dez Mundos são: Inferno — uma condição de desespero na qual uma pessoa é completamente dominada pelo sofrimento; Fome — uma condição de vida em que uma pessoa é dominada pelos desejos ilusórios que jamais podem ser satisfeitos; Animalidade — um estado instintivo no qual teme-se o forte e oprime-se o fraco; Ira — um estado caracterizado por uma irresistível necessidade de superar e dominar outros e geralmente dissimulado por uma aparente bondade e sabedoria. Esses quatro estados são referidos como os Quatro Maus Caminhos por causa da negatividade destrutiva que os caracteriza.
Além desses, ainda há: o estado de Tranqüilidade, caracterizado pela capacidade de raciocínio e de fazer julgamentos. Apesar de ser uma condição de vida básica que nos identifica como seres humanos, pode também representar um frágil equilíbrio que leva uma pessoa a um estado inferior quando confrontada com situações negativas; e o estado de Alegria, experimentado geralmente quando os desejos são satisfeitos ou quando os sofrimentos são amenizados. Esses mundos são também classificados como os Seis Caminhos Inferiores. Todos eles dependem das circunstâncias externas para se manifestarem e por essa razão não podemos dizer que as pessoas nesses estados de vida desfrutam a verdadeira liberdade ou autonomia.
O mundo de Erudição descreve uma condição de aspiração à iluminação. O mundo de Absorção indica a capacidade de perceber por si só a verdadeira natureza de todos os fenômenos. Juntos, eles são conhecidos como Dois Veículos. As pessoas que manifestam esses dois estados são parcialmente iluminadas e estão livres de alguns desejos ilusórios. Mas aqueles que se encontram nesses mundos podem ficar presas às suas visões e em alguns textos budistas o Buda adverte as pessoas dos Dois Veículos por seu egoísmo.
O mundo de Bodhisattva é caracterizado pela benevolência com que uma pessoa vence as restrições do egoísmo e dedica-se incansavelmente pelo bem-estar dos outros. O budismo Mahayana, em particular, enfatiza o Bodhisattva como um ideal de comportamento humano. O estado de Buda é a condição da mais perfeita e absoluta liberdade. Para uma pessoa que manifesta o estado de Buda tudo — incluindo os inevitáveis sofrimentos da doença, velhice e morte — pode ser vivenciado como uma oportunidade para seu desenvolvimento e realização. O estado de Buda inerente em uma pessoa manifesta-se por meio de ações altruísticas desenvolvidas no mundo de Bodhisattva.
Esses quatro últimos estados de vida compõem os Quatro Nobres Caminhos.
Cada mundo ou estado de vida contém os outros nove. Daishonin exemplifica esse fato da seguinte forma: “Mesmo um frio vilão ama sua esposa e filhos. Ele também tem o mundo de Bodhisattva em sua vida.” (As Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. 1, pág. 58.) Dessa forma, o potencial para a sabedoria e ação iluminadas representadas pelo estado de Buda continuam a existir em uma pessoa ainda que sua vida seja dominada pelos estados inferiores — Inferno, Fome e Animalidade.
O inverso também ocorre. O estado de Buda não existe separado dos outros nove mundos. Ao contrário, a sabedoria, a vitalidade e a coragem do estado de Buda podem mudar a tendência de uma pessoa para um determinado estado. Por exemplo, quando a Ira é direcionada pela benevolência dos estados de Buda ou de Bodhisattva, pode se tornar uma força para desafiar a injustiça e mudar a sociedade.
Dessa forma, o propósito da prática budista é manifestar o estado de Buda capaz de iluminar nossa vida e nos possibilitar criar um valor duradouro em nossa eterna jornada pelos Dez Mundos.

Kossen-rufu

Kossen-rufu


Kossen significa “declarar amplamente”, ou seja, ensinar a filosofia budista às pessoas, ru (fluxo), de rufu, corresponde a “uma corrente como a de um grande rio” e fu (tecido) significa “espalhar-se como um rolo de tecido”.
No passado, muitas religiões eram praticadas somente por uma determinada casta ou tribo. Em contraste, uma verdadeira religião transcende as diferenças de raça ou etnia por visar à verdade universal do ser humano. Uma religião como essa tem condições de ser amplamente aceita e proporcionar felicidade à humanidade. Esse é o caso do Budismo de Nitiren Daishonin.
Segundo o presidente da SGI, Daisaku Ikeda, o Kossen-rufu flui livremente para toda a humanidade como um rolo de tecido, composto por linhas verticais e horizontais, que vai sendo desenrolado e se espalha cobrindo tudo. As linhas verticais representam a transmissão do ensino de mestre para discípulo, de pai para filho, de veterano para novato. As linhas horizontais, a transmissão imparcial desse ensino, transcendendo as fronteiras nacionais, as classes sociais e todas as demais distinções. Portanto, Kossen-rufu é um movimento para transmitir o caminho supremo que conduz à felicidade e o mais elevado princípio de paz fundamentado no ensino de Nitiren Daishonin.
No Sutra de Lótus consta a predição de que após o declínio do Budismo de Sakyamuni, a Grande Lei seria revelada e propagada pelo mundo inteiro. Ao ouvir essa declaração, os discípulos de Sakyamuni e os bodhisattvas de outros mundos solicitaram a ele que lhes confiasse a missão de propagar a Lei no futuro. Porém, Sakyamuni recusou o pedido dizendo que eles não estavam qualificados a propagá-la, pois não conseguiriam resistir às extremas adversidades que estavam por vir. Foi nesse exato momento que uma multidão incalculável de bodhisattvas emergiu da terra. Eram os bodhisattvas a quem Sakyamuni havia confiado a missão de propagar a Lei.
Em exata conformidade com a profecia do Sutra de Lótus, quando os ensinos de Sakyamuni e sua prática haviam se tornado ineficazes ou perdido o poder de salvar as pessoas, Nitiren Daishonin estabeleceu o Verdadeiro Budismo, identificando o Nam-myoho-rengue-kyo como a Lei a ser declarada e propagada amplamente nos Últimos Dias da Lei. Ele incorporou sua vida iluminada na forma de um objeto de devoção, o Dai-Gohonzon. “Este Dai-Gohonzon”, ele proclamou, “foi concedido a todas as pessoas, visando à paz e felicidade de toda a humanidade.” Daishonin já havia inscrito outros Gohonzon que foram concedidos individualmente a seus seguidores, mas somente o Dai-Gohonzon foi especificamente inscrito, no dia 12 de outubro de 1279, como o objeto de devoção para as pessoas do mundo inteiro.
Nitiren Daishonin inscreveu o Dai-Gohonzon com a convicção de que todas as pessoas abraçariam a fé nele. Isso é chamado de “Kossen-rufu da entidade da Lei” (Keko no Kossen-rufu ou Hottai no Kossen-rufu). Quando a maioria das pessoas no mundo inteiro recitar o Nam-myoho-rengue-kyo, o Kossen-rufu será efetivado. Esse tempo é chamado de “Kossen-rufu da substanciação” (Kossen-rufu de Kegui) ou da ampla aceitação da fé. O próprio Nitiren Daishonin já havia realizado o Kossen-rufu da entidade da Lei ao inscrever o Dai-Gohonzon. Dessa forma, o Kossen-rufu da substanciação, ou seja, a propagação dos ensinos do Buda, é a missão de seus discípulos.
O termo Kossen-rufu consta no 23º capítulo do Sutra de Lótus, Yakuo Bosatsu Honji (Os Feitos Anteriores do Bodhisattva Rei dos Remédios), que declara: “Nos quinhentos anos após minha morte, realizem o Kossen-rufu mundial e jamais permitam que seu fluxo cesse.”
Esse feito corresponde ao cumprimento do juramento dos Bodhisattvas da Terra, conforme afirma a frase: “A princípio somente Nitiren recitou o Nam-myoho-rengue-kyo, mas então duas, três e cem o seguiram, recitando e ensinando outras pessoas. Isso acontecerá também no futuro. Não é isso ‘emergir da terra’? Sem dúvida, no tempo do Kossen-rufu a nação japonesa inteira recitará o Nam-myoho-rengue-kyo. Isso é tão certo quanto uma flecha mirar a terra e nunca errar o alvo.” (As Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. 1, pág. 367.)
O termo Kossen-rufu é comumente traduzido por paz mundial, porém seu significado, como já visto, vai muito mais além, pois a paz não é simplesmente ausência de guerra. Para que a paz na sociedade e no mundo torne-se realidade é preciso que as pessoas vençam o preconceito, a ganância e o desejo de querer dominar tudo e a todos que as rodeiam. A única forma de conseguir isso é por meio da auto-reforma, ou da revolução humana, fundamentada na prática budista. E é exatamente essa idéia que o presidente Ikeda transmite no prefácio da Revolução Humana, romance de sua autoria: “A revolução humana de uma única pessoa irá um dia impulsionar a mudança total do destino de um país e, além disso, será capaz de transformar o destino de toda a humanidade.”

Gohonzon O - objeto de devoção do Budismo de Nitiren Daishonin

Gohonzon

O objeto de devoção do Budismo de Nitiren Daishonin


“Os homens sacrificam-se para defender sua honra e as mulheres morrem por seus maridos. Os peixes em uma lagoa desejam viver em segurança e, deplorando sua pouca profundidade, cavam buracos no fundo para se esconderem. Porém, iludidos pela isca, mordem o anzol... O mesmo é verdadeiro para os seres humanos. É geralmente por assuntos seculares insignificantes e raramente pelo importante budismo que as pessoas sacrificam sua vida. Por essa razão, poucas pessoas podem atingir o estado de Buda.”1 Esta frase das escrituras de Nitiren Daishonin nos ensina um importante ponto: a que devemos devotar a nossa vida? Dinheiro, conforto, amor e família são importantes, sem dúvida. No entanto, o problema encontra-se no forte apego a esses fatores que estão sujeitos à mudança. Se nossa felicidade depender totalmente deles, será extremamente frágil. Se não temos dinheiro para obter o que queremos, sentimos uma imensa frustração. Se não somos correspondidos pela pessoa amada, sentimo-nos desolados. Essa é a tendência do ser humano.
Contudo há algo ainda mais importante e duradouro a que podemos devotar a vida. Algo que nos possibilita um eterno desenvolvimento. Esse algo é o Gohonzon.
Literalmente hon significa base, zon, respeito, e go é um prefixo honorífico que indica “digno de honra”. Portanto, Gohonzon quer dizer “objeto de respeito fundamental”. O Gohonzon contém a condição de vida iluminada do Buda que não é afetada por circunstâncias mutáveis. Nitiren Daishonin deixou o Gohonzon para toda a humanidade, inscrevendo-o em 12 de outubro de 1279 com o desejo de que todas as pessoas atinjam a mesma condição de vida iluminada por ele alcançada.
Sofremos a influência de vários fatores externos. Uma pintura pode nos evocar alegria, paz ou tristeza, dependendo da relação que temos com ela. A função do Gohonzon é possibilitar-nos evidenciar nossa natureza de Buda inata. A idéia de um objeto de devoção pode parecer estranha aos ocidentais. Mas o Gohonzon é muito diferente de um ídolo. Nós não nos devotamos a algo superior ou separado de nós. Ao contrário, Nitiren Daishonin nos legou uma representação gráfica da condição de vida iluminada do Universo e da nossa própria vida. Com a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo, nós nos unimos ao Gohonzon e experimentamos nossa própria condição de vida iluminada. É exatamente como afirma a seguinte escritura: “Quando reverenciamos o Myoho-rengue-kyo inerente em nossa própria vida como objeto de devoção, a natureza de Buda dentro de nós é convocada e manifestada por nossa recitação do Nam-myoho-rengue-kyo; é isto o que quer dizer ‘Buda’. Por exemplo, quando um pássaro engaiolado canta, os pássaros que estão voando no céu são atraídos e se reúnem ao seu redor, fazendo com que o primeiro comece a lutar para se libertar. Quando recitamos a Lei Mística, nossa natureza de Buda é evocada emergindo infalivelmente.”2
O uso de um objeto para concentração e meditação é muito comum no budismo. O Gohonzon é chamado de mandala, uma palavra sânscrita, cujo significado original é “círculo”. Na Índia antiga um círculo era desenhado na areia em torno dos participantes das cerimônias religiosas significando proteção. Um círculo compreende tudo que está dentro dele e, portanto, representa a universalidade e a totalidade, englobando o macrocosmo e o microcosmo.
O Gohonzon também é descrito como “concentração de benefícios” e “perfeitamente dotado”. A nossa vida está perfeitamente dotada de tudo de que necessitamos para nossa felicidade. Nossa natureza inata de Buda responde à nossa recitação do Nam-myoho-rengue-kyo ao Gohonzon. Daishonin nos incentiva dizendo: “Eu, Nitiren, inscrevi minha vida em tinta sumi, assim, creia no Gohonzon com todo o seu coração.”3 O Gohonzon é um pergaminho escrito em caracteres chineses e sânscritos. No centro, está escrito Nam-myoho-rengue-kyo Nitiren, significando a unicidade da Pessoa (Nitiren Daishonin) e da Lei (Nam-myoho-rengue-kyo). Representantes dos Dez Mundos (Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranqüilidade, Alegria, Erudição, Absorção, Bodhisattva e estado de Buda) aparecem reunidos em torno da inscrição central. Alguns deles são personagens históricos, enquanto outros são figuras míticas ou divindades budistas. Nitiren Daishonin utilizou-os para representar as funções do Universo e da nossa própria vida.
Diversas escolas budistas veneram imagens de Sakyamuni e de outras divindades. Nitiren Daishonin foi o primeiro a estabelecer um objeto de devoção com base na palavra escrita por atribuir a ela o mais alto valor. Assim como seus ensinamentos, que foram escritos de próprio punho em cartas, tratados e teses endereçados aos seus seguidores, o Gohonzon é um legado a toda a humanidade e está livre de deturpações em seu significado.

Fé, prática e estudo

Fé, prática e estudo


Nitiren Daishonin ensina que os fundamentos da religião budista são a fé, a prática e o estudo. Fé significa crer no Gohonzon e ter fé em que o Gohonzon do Nam-myoho-rengue-kyo é idêntico à própria vida. A forte fé é a manifestação do estado de Buda inerente na vida da pessoa. No entanto, essa crença deve ser aprofundada e fortalecida com a prática e o estudo do ensino de Nitiren.
A prática se divide em duas partes — a Prática Individual e a Prática Altruística. A Prática Individual significa realizar o Gongyo e recitar o Daimoku e a Prática Altruística significa ensinar a outras pessoas para que elas possam perceber a grandiosidade do budismo e obter benefícios do Gohonzon. A prática de recitar o Nam-myoho-rengue-kyo com fé no Gohonzon faz com que a vida entre em perfeita fusão com o Gohonzon para tornar-se una com a Lei do Nam-myoho-rengue-kyo.
A prática para os outros inclui o incentivo às pessoas para que tenham fé e a participação nas várias atividades em prol do Kossen-rufu e do movimento de propagação da Lei Mística. Ao realizar essa prática, a pessoa está cumprindo sua missão de salvar os outros como emissárias de Nitiren Daishonin, o Buda dos Últimos Dias da Lei.
É importante lembrar que ensinar o budismo a outras pessoas também é uma causa para a própria revolução humana. Nesse sentido, Prática Altruística é o mesmo que praticar para si mesmo. Por esse motivo, os dois tipos de práticas capacitam a pessoa a tornar-se iluminada para a realidade máxima da própria vida, isto é, o Nam-myoho-rengue-kyo. Os jovens acadêmicos, por exemplo, tornam-se especialistas em seu campo porque estudam todos os dias em seu campo de especialização. Os estudantes de arte tornam-se enfim reconhecidos por seu trabalho. A prática contínua é essencial se a pessoa deseja ficar totalmente desperta para a realidade da própria vida. O estudo significa procurar compreender a filosofia budista, especialmente o ensino que revela a força e a natureza do Gohonzon. Além disso, significa compreender, por meio da razão, os pontos divergentes e concordantes entre esse ensino e outros sistemas de pensamento e filosofias. Uma vez que as pessoas são seres racionais, elas conseguem aprofundar e fortalecer sua crença com uma compreensão clara da filosofia budista. Para ensinar e explicar o budismo para outras pessoas, é preciso compreender os princípios budistas. Dessa forma, o estudo também envolve tanto a Prática Individual como a Prática Altruística.
A fé é o que há de mais importante para atingir o estado de Buda. A fé dá origem à prática e ao estudo, e ambos, por sua vez, servem para aprofundar a fé da pessoa. A fé se aprofunda com o equilíbrio entre a prática e o estudo. Porém, é igualmente verdadeiro que a energia que brota da fé é a base para a prática e o estudo contínuos.

Diferentes corpos, uma única mente (itai doshin)

Diferentes corpos, uma única mente (itai doshin)


Aqueles que recitam o Nam-myoho-rengue-kyo são ainda uma pequena parcela da população mundial. Como pode um número reduzido de pessoas atingir o grande ideal do Kossen-rufu ou a paz mundial? Nitiren Daishonin nos apresenta a chave em uma de suas escrituras: “Se itai doshin prevalece entre as pessoas, todas as suas metas serão alcançadas, enquanto que, com dotai ishin, falharão em realizar qualquer coisa. Os mais de três mil volumes das literaturas confuciana e taoísta estão repletos de exemplos. O rei Chou de Yin conduziu setecentos mil soldados a uma batalha contra o rei Wu de Chou com meros oitocentos homens. O exército do rei Chou, contudo, perdeu por falta de união defronte da unidade dos homens do rei Wu. Mesmo um único indivíduo com propósitos contraditórios consigo mesmo é certo terminar em falha, mas uma centena ou um milhar de pessoas unidas em espírito certamente têm sucesso. Os japoneses são muitos em número, mas o espírito divisório destrói sua habilidade de realizar algo em comum. Em contraste, Nitiren e seus seguidores são poucos em número, mas por agirem em itai doshin realizarão sua grande missão de propagar o Sutra de Lótus. Muitos fogos enfurecidos são debelados por uma única chuva e muitas forças más são vencidas por uma única grande verdade. Assim são Nitiren e seus seguidores.” (As Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. 1, págs. 409–410.)
Itai significa “diferentes corpos” e doshin, “uma única mente”. Portanto, itai doshin quer dizer “diferentes pessoas com um mesmo objetivo”. Em essência, esse princípio ensina que diferentes pessoas profundamente relacionadas por um mesmo ideal podem realizar muito mais do que o mesmo número de indivíduos trabalhando separadamente para fins puramente particulares.
Itai, refere-se à individualidade. As pessoas diferem em caráter, capacidade, experiência de vida, valores e em muitos outros aspectos. Ninguém é exatamente igual a uma outra pessoa. Essa individualidade está tão profundamente enraizada que qualquer tentativa de unir as pessoas à força acabará em falha e em divisões.
O Budismo de Nitiren Daishonin preza profundamente as diferenças individuais e ensina que todas as pessoas podem atingir o estado de Buda sem mudar suas características.
“Única mente” ou único objetivo, não significa que todos devem ter as mesmas opiniões, os mesmos pensamentos e gostos, mas refere-se à fé comum no Gohonzon e ao compromisso com a realização do Kossen-rufu, tarefa esta legada pelo próprio Buda Nitiren Daishonin a todos os seus seguidores. Essa não é uma união temporária e superficial por ser embasada na Lei Mística. Nada poderá obstruir ou dividir as pessoas unidas por esse vínculo. Quando cada um acalentar o ideal do Kossen-rufu e orar sinceramente para a sua realização, as grandes virtudes se manifestarão. O ritmo da vida de cada pessoa se entrelaça com o de outras formando uma harmoniosa sinfonia com seus ricos e diferentes acordes.
Em sua proposta “A paz pelo diálogo: É tempo de falar — Uma cultura de paz”, o presidente da SGI, Daisaku Ikeda, disse a esse respeito: “O espírito humano é dotado da habilidade de transformar até as circunstâncias mais difíceis, acrescentando valores e significados cada vez mais enriquecedores. Quando cada pessoa levar essa ilimitada capacidade a florescer plenamente; quando cidadãos comuns se unirem num compromisso com a mudança positiva, há de surgir, como um culto da paz, um século da vida.” (Terceira Civilização, edição no 381, maio de 2000, pág. 44.)
O princípio de dotai ishin, mencionado no início, é o oposto de itai doshin. Esse princípio indica a diferença de objetivos e intenções das pessoas embora aparentemente demonstrem estar unidas. Aplica-se a um grupo de pessoas e a um indivíduo também. Por exemplo, uma pessoa indecisa, com pensamentos contraditórios e cheia de dúvidas encontra-se em dotai ishin consigo mesma e jamais conseguirá realizar seus objetivos.
Com esses dois princípios, itai doshin e dotai ishin, Nitiren Daishonin ensina a importância de respeitar e prezar as características individuais e mostra-nos como as pessoas podem atuar harmoniosamente para conseguir a grande meta da paz mundial.

Carma

Carma


No Ocidente, costuma-se associar a palavra “destino” a carma. Contudo, “destino” e “carma” possuem bases de ensinamentos e crenças totalmente distintas.
Entre alguns dos significados da palavra “destino” estão: encadeamento de fatos supostamente fatais, fatalidade; fado, sorte ou ainda, entidade misteriosa que determina as vicissitudes da vida.1 Esse termo está intrinsecamente ligado à crença da existência de um ser supremo, que predetermina para cada ser uma sorte e condições diversas, conforme sua vontade e consideração. Cada pessoa vive sua existência sobre trilhos já preestabelecidos. As pessoas, nesse caso, são meros coadjuvantes numa grande peça teatral na qual não lhes cabe a opção de alterar seu roteiro.
A palavra “carma” tem sua origem no sânscrito karma ou karman e significa “ação”. O budismo prega que a vida é eterna e que é o carma que determina a trajetória de uma pessoa, ou seja, as ações por ela praticadas é o que traça sua sorte nesta existência e nas futuras, assim como suas ações de um tempo passado são os fatores que definiram sua realidade atual. Ao estabelecer um paralelo com o termo “destino”, pode-se dizer que carma é uma espécie de destino que está constantemente sendo atualizado e alterado conforme as ações do indivíduo, sendo ele o único responsável, tanto pelo presente como pelo futuro. Neste caso, cada pessoa é protagonista de sua grande peça na qual ela própria é roteirista e diretor.
As ações às quais o budismo se refere são identificadas como três: física, verbal e mental. Isso significa que uma pessoa forma o carma pelos seus atos, suas palavras e seus pensamentos. Mesmo que não se traduza os pensamentos em palavras ou atos, e mesmo que ninguém mais saiba, essa “ação” em si já registrou um efeito para sua vida. Outro princípio budista a ser observado é a lei de causa e efeito que elucida que toda causa produz ou registra seu efeito no exato momento em que foi praticada, sendo que esse efeito pode se manifestar imediatamente na vida da pessoa, num tempo futuro, na existência seguinte ou mais além, dependendo do grau de importância dessa causa, tanto boa como má, e ainda conforme estímulos e condições externas. Para cada causa, haverá sempre um efeito correspondente.
A seqüência para a formação do carma ocorre da seguinte maneira: primeiramente, as intenções —tanto positivas como negativas— agem na mente da pessoa. Em seguida, essas intenções originam palavras ou ações manifestas. Os efeitos dessas causas (pensamentos, palavras ou ações) ficam registrados na vida como uma espécie de força ou energia latente que irá compor seu “destino”.
O grau do carma que a pessoa forma depende da força da intenção. Quanto maior for, mais intenso será esse registro. Por exemplo, quanto maior o ódio que uma pessoa alimenta, maior será o grau do efeito que se manifestará em sua vida. Conforme os pensamentos ou intenções vão sendo expressos em palavras ou ações, o grau do carma formado torna-se cada vez maior. A quem é direcionado esse ódio também é um fator que deve ser considerado. No Gosho “Carta aos Irmãos”, Nitiren Daishonin exemplifica essa questão: “Para simplificar, se alguém golpear o ar, seu punho não ficará ferido, mas se bater numa rocha, sentirá dores... A gravidade de um pecado depende de quem ferimos.”
Todo o carma formado a cada instante da vida é acumulado num repositório chamado alaya, ou oitava consciência. Todas as experiências são depositadas nessa consciência e elas o acompanham por todas as existências, passando pelo ciclo de nascimento e morte. As ações cármicas, positivas e negativas, continuarão a existir na consciência alaya até que encontrem situações propícias para manifestar seus efeitos. A força dessas ações depositadas como energia latente nunca diminui nem desaparece por si só. Ela sempre se manifestará. Mas, como tudo depende de cada indivíduo, ele próprio possui as condições de transformar seu mau carma e direcionar sua vida para a felicidade, além de amenizar seus efeitos cármicos. O modo mais rápido para obter essa transformação é recitar o Nam-myoho-rengue-kyo, ou a Lei Mística que permeia todo o universo, e atuar em benefício de outras pessoas realizando o bem maior, ou ensinar-lhes o caminho dessa felicidade.

Caminho do meio

Caminho do meio


Caminho do Meio é um conceito budista que implica em uma abordagem equilibrada da vida e no controle dos impulsos e do comportamento das pessoas.
Embora a palavra “meio” denote moderação, o termo Caminho do Meio não deve ser interpretado como uma atitude passiva, comodista e relapsa.
Em um sentido mais amplo, Caminho do Meio refere-se à visão correta da vida ensinada pelo Buda, e às ações ou atitudes que geram felicidade para si próprio e para os outros. Por essa razão, o budismo é também referido como “Caminho do Meio”, indicando uma transcendência e conciliação dos extremos de visões opostas.
Esse conceito é exemplificado pela própria vida de Sakyamuni. Nascido como um príncipe, Sakyamuni desfrutou uma vida de conforto e prazer. Porém, não satisfeito com isso, deixou o palácio em que vivia em busca da verdade sobre a natureza da vida. Ele iniciou a prática ascética, privando-se de alimento e sono e quase chegou a sofrer um colapso. Percebendo a futilidade desse caminho, iniciou a prática da meditação fortemente determinado a compreender a verdade da existência humana. Foi então que Sakyamuni despertou para a verdadeira natureza da vida, ou seja, para a eternidade, para a fonte de vitalidade e sabedoria ilimitadas.
Mais tarde, para conduzir seus seguidores a esse Caminho do Meio, Sakyamuni ensinou sobre o Caminho Óctuplo, que consiste de oito princípios pelos quais a pessoa pode controlar seu comportamento e desenvolver o autoconhecimento. Os oito princípios são: 1- Visão correta; 2- Pensamento correto; 3- Expressão verbal adequada; 4- Ação correta; 5- Modo de vida correto; 6- Empenho adequado; 7- Observação adequada; e 8- Meditação adequada.
A partir de então, muitos eruditos budistas tentaram esclarecer e definir a verdadeira natureza da vida.
Por volta do terceiro século, Nagarjuna explicou por meio de sua teoria da não-substancialidade do universo que nenhum fenômeno é permanente, tudo está em constante mutação. Para Nagarjuna, essa visão da vida era o Caminho do Meio.
Posteriormente, na China, as idéias de Nagarjuna foram desenvolvidas por Tient’ai (Chi-i). Tient’ai afirmava que todos os fenômenos são manifestações de uma única entidade. A essa entidade ele chamou de Caminho do Meio. Ela revela dois aspectos: um físico e o outro, não-substancial. Ao negarmos ou enfatizarmos apenas um deles estaremos distorcendo a visão correta da vida. Não podemos, por exemplo, conceituar uma pessoa sem um aspecto físico e sem um aspecto mental ou espiritual. Tient’ai esclareceu portanto a inter-relação indivisível entre ambos os aspectos. Dessa visão derivam os conceitos budistas de inseparabilidade do corpo e da mente, do ser e seu meio ambiente, da vida e da morte, do bem e do mal e muitos outros.
Nitiren Daishonin (1222–1282), por sua vez, atribuiu uma forma concreta e prática a esses argumentos abstratos. Com base nos ensinos do Sutra de Lótus, Daishonin definiu o Caminho do Meio como Nam-myoho-rengue-kyo e ensinou que recitando essa frase as pessoas podem harmonizar e energizar os aspectos físico e espiritual e despertar para a mais profunda verdade da vida.
Dessa perspectiva, a vida — a energia vital e a sabedoria que permeiam o cosmos e manifestam-se em todos os fenômenos — é uma entidade que transcende e harmoniza as contradições aparentes entre os aspectos físico e mental e entre a vida e a morte.
As pessoas em geral tendem a uma visão predominantemente materialista ou então espiritualista da vida. Os efeitos negativos do materialismo que permeiam o mundo industrializado moderno são aparentes em cada nível da sociedade, da destruição ambiental ao empobrecimento espiritual. Não podemos simplesmente rejeitar o materialismo. Isso equivaleria ao idealismo ou ao escapismo e destruiria nossa capacidade de reagir aos desafios da vida de forma construtiva.
O historiador Eric Hobsbawm intitulou sua obra sobre o século XX de Era dos Extremos. De fato, a violência e os grandes desequilíbrios dessa era salientam a necessidade de um novo caminho de reconciliação pacífica dos aparentes opostos. Esse é o Caminho do Meio em que o respeito à vida prevalece, o caminho condutor a uma era de verdadeiro humanismo.

Budismo esotérico e exotérico

Budismo esotérico e exotérico


Primeiro vamos verificar o significado literal dos termos esotérico e exotérico. Conforme o dicionário Aurélio:
Esotérico: 1) Diz-se do ensinamento que, em escolas filosóficas da Antiguidade grega, era reservado aos discípulos completamente instruídos. 2) Todo ensinamento ministrado a círculo restrito e fechado de ouvintes. 3) Compreensível apenas por poucos; obscuro, hermético.
Exotérico: 1) Diz-se de ensinamento que, em escolas da Antiguidade grega, era transmitido ao público sem restrição, dado o interesse generalizado que suscitava e a forma acessível em que podia ser exposto, por se tratar de ensinamento dialético, provável e verossímil.
Veremos cada um desses ensinos segundo a filosofia budista.
Os ensinos exotéricos (kenkyo, em japonês) correspondem aos que eram revelados explicitamente. A seita Shingon divide o budismo em ensinos exotéricos e esotéricos. Ela define o Budismo de Sakyamuni como exotéricos, por ser exposto de acordo com a capacidade das pessoas, e os ensinos do Buda Dainiti1 como esotéricos.
Os ensinos esotéricos (mikkyo, em japonês) correspondem aos que eram revelados secretamente e estavam além da compreensão das pessoas comuns. São o oposto dos ensinos exotéricos. De acordo com a seita Shingon, os ensinos esotéricos são aqueles que foram pregados pelo Buda Dainiti (Mahavairochana, em sânscrito) a Kongosatta (Vajrasattva), que os compilou e os selou numa torre de ferro no sul da Índia, onde foram, mais tarde, transferidos a Nagarjuna por Kongosatta. Afirma-se que a transmissão desses ensinos tenha, então, passado de Nagarjuna para Nagabodhi, Vajrabodhi e Amoghavajra. O budismo esotérico é uma forma de tantrismo que incorpora elementos de magia e rituais nativos tais como gestos simbólicos (mudras), encantamentos (mantras) e sílabas místicas (dharanis), bem como diagramas (mandalas) e a adoração de numerosas divindades. Os ensinos esotéricos atribuídos ao Buda Dainiti (tais como o Sutra Dainiti) são chamados “esoterismo puro”, enquanto os ensinos que apresentam ritos e fórmulas similares não relacionados com o Buda Dainiti são denominados “esoterismos diversos“. O esoterismo puro foi introduzido na China por Shubhakarasimha, Vajrabodhi e Amoghavajra.
No Japão, há duas grandes ramificações de budismo esotérico:
1) A seita Shingon, fundada por Kobo (774–835), que estudou com Hui-kuo, discípulo de Amoghavajra, na China. Sua sede era o templo Toji (templo do Leste) sendo, portanto, conhecida também como esoterismo do leste (Tomitsu, em japonês). De acordo com essa seita, os ensinos esotéricos são a mente, a boca e o corpo místicos (também conhecidos como três mistérios ou três segredos) do Buda Dainiti. Acreditava-se que Dainiti estivesse em todos os lugares do universo, expondo constantemente a Lei para seu próprio prazer, mas os mortais comuns não conseguiam entender seus ensinos a menos que fossem iniciados nos três mistérios. Portanto, seus ensinos são chamados esotéricos. Mas Buda Sakyamuni, que surgiu como ser humano, expôs seus ensinos conforme a capacidade das pessoas. A seita Shingon define que, como esses ensinos foram expostos explicitamente dentro do alcance da compreensão das pessoas, devem ser denominados exotéricos e são inferiores aos ensinos do Buda Dainiti.
2) O esoterismo Tendai (Taimitsu), ou ensinos esotéricos mantidos pela seita Tendai. Jikaku (794–866), o terceiro sacerdote-chefe da seita Tendai, estudou os ensinos esotéricos na China T’ang e os incorporou na doutrina Tendai quando retornou para o Japão. Divergindo da seita Shingon de Kobo, o esoterismo Tendai defende que Sakyamuni e Dainiti são dois aspectos do mesmo buda. Essa escola considera os três veículos como ensinos exotéricos e o veículo único, como ensino esotérico. Porém, pelo fato de não mencionarem mudras e mantras, que constituem a forma concreta da prática esotérica, são chamados ensinos esotéricos em teoria, ao passo que os sutras Dainiti e Kongotyo são chamados ensinos esotéricos tanto na teoria como na prática. Por essa razão, o esoterismo Tendai assevera que, embora o Sutra de Lótus e o Sutra Dainiti sejam iguais teoricamente, o Sutra Dainiti é superior em termos de prática.
Na escritura “Carta de Sado”, Nitiren Daishonin escreveu: “No tempo em que as pessoas confudem os ensinos Hinayana e o Mahayana, os ensinos provisório e o verdadeiro, ou as doutrinas exotéricas e esotéricas, como se fossem incapazes de distinguir as gemas das pedras ou o leite da vaca do leite da mula, deve-se distinguir esses ensinamentos seguindo o exemplo dos grandes mestre Tient’ai e Dengyo.” (The Writings of Nichiren Daishonin, pág. 302.)
Numa outra escritura, o Buda Original comenta: “Com a chegada de mais escrituras budistas à China, tornou-se evidente que algumas eram superiores em conteúdo ou mais profundas que as outras. Elas pertenciam a diferentes categorias, com o Hinayana e Mahayana, exotérica e esotérica, provisória e verdadeira. Exemplificando, todas as pedras são invariavelmente inferiores ao ouro, mas o próprio ouro pode ser classificado em várias categorias. Nenhum ouro encontrado no mundo humano pode se comparar ao ouro extraído do rio Jambu. Por sua vez, o ouro de Jambu vale bem menos que o ouro guardado no Céu Brahma. Semelhantemente, todos os sutras budistas são como ouro, mas alguns são mais elevados e profundos que os outros.” (Ibidem, pág. 612.)
Conforme essas palavras de Nitiren Daishonin, apesar de existir uma enorme quantidade de ensinos, o Sutra de Lótus do Nam-myho-rengue-kyo é superior a todos, pois é o único capaz de conduzir as pessoas para a felicidade absoluta.

Nota:
1) Dainiti Nyorai (Mahavairochana, em sânscrito): O Buda adorado no ensino esotérico. Freqüentemente citado como Dainiti Nyorai (Tathagata Mahavairochana). Esse Buda é mencionado nos sutras Dainiti e Kongotyo. O Sutra Dainiti é uma tradução chinesa feita em 725 por Shubhakarasimha, da dinastia T’ang, com o auxilio de I-hsing. Juntamente com outros sutras Kongotyo e Soshitsuji, é uma das três escrituras básicas do budismo esotérico. O Buda Dainiti é considerado um buda no corpo Dharma ou propriedade da Lei (hosshin, em japonês e dharma-kaya, em sânscrito), aspecto que personifica a verdade imutável de todos os fenômenos, e é a fonte da qual todos os outros budas e bodhisattvas se originaram. Os ensinos esotéricos defendem que Dainiti sempre se encontra expondo a Lei no universo, e que o mortal comum pode fundir sua vida com a desse buda com a prática dos três mistérios. (Os três mistérios são também chamados três segredos. De acordo com o ensino da Shingon, uma vez que o Buda Dainiti é considerado como onipresente, todos os seres são o corpo místico do Buda, todos os sons são a boca mística [voz] do Buda e todos os pensamentos são a mente mística do Buda. Contudo, o corpo, a boca e a mente do Buda são inimaginavelmente profundos e estão além da compreensão do mortal comum. Portanto, são chamados “mistérios”. Além disso, o corpo, a boca e a mente dos mortais comuns não são, essencialmente, diferentes dos do Buda, embora sua natureza de Buda esteja encoberta pela ilusão. Nesse sentido, o corpo, a boca e a mente do mortal comum, em seu aspecto essencial, são também denominados três mistérios. Em termos de prática, o ensino esotérico define o corpo místico como a realização de mudras com as mãos, a boca mística com a articulação de mantras (palavras místicas), e a mente mística como a meditação sobre um mandala esotérico ou uma das figuras que aparecem nela. Por meio dessas três práticas, afirma-se que o corpo, a boca e a mente do mortal comum tornam-se unos com os do Buda Dainiti, capacitando-o a atingir o estado de Buda na forma presente.) Dainiti possui dois aspectos: o Dainiti do Mundo Ventre, que representa a verdade fundamental do universo, e o Dainiti do Mundo Diamante, que representa a sabedoria. Os dois são, fundamentalmente, unos. As formas de esoterismo da Tendai e da Shingon diferem em sua interpretações sobre Dainiti. A primeira afirma que Dainiti é o aspecto da propriedade da Lei, e Sakyamuni, o aspecto da propriedade da ação do mesmo Buda, enquanto que a segunda sustenta que os dois budas são totalmente distintos.

Bons amigos e maus amigos (zentishiki e akutishiki)

Bons amigos e maus amigos (zentishiki e akutishiki)


O objetivo da prática budista é atingir o estado de Buda (iluminação).
No budismo, uma pessoa que ajuda outra a atingir esse objetivo, ensinando-lhe sobre a prática ou encorajando-a na fé, é chamada de “bom amigo” ou “boa influência” (zentishiki, em japonês). Ao contrário, uma pessoa que impede e desencoraja outra em sua busca da iluminação é chamada de “mau amigo” ou “má influência” (akutishiki).
Em suas escrituras, Nitiren Daishonin aplica o termo “bom amigo” de várias maneiras. Em alguns casos ele o usa impessoalmente referindo-se ao Sutra de Lótus ou à Lei Mística. Em outros, ele o emprega com o significado de Buda, que tornou o caminho da iluminação acessível a todos. Porém, o termo é mais comumente utilizado para indicar uma pessoa que encoraja uma outra ao longo da prática da fé.
No 27º capítulo do Sutra de Lótus, Myoshogonno (Os feitos anteriores do Rei Adorno Maravilhoso), consta: “Um bom amigo é uma grande causa e circunstância. Em outras palavras, é aquele que ensina e guia outros, capacitando-os a adquirir a sabedoria do Buda e despertando-os para a iluminação.” Na escritura “Três mestres tripitaka oram por chuva”, Daishonin afirma: “Quando se transplanta uma árvore, mesmo que soprem ventos violentos, ela não tombará se tiver uma firme estaca para mantê-la em pé. Porém, mesmo uma árvore que cresceu em um lugar adequado pode cair se suas raízes forem fracas. Uma pessoa fraca não sucumbirá se aqueles que a apóiam forem fortes, mas uma pessoa de considerável força, quando só, poderá tropeçar num terreno irregular. (...)
“Portanto, o melhor modo de atingir o estado de Buda é encontrar um zentishiki, ou um bom amigo. Até onde a sabedoria de uma pessoa pode levá-la? Se essa pessoa possui sabedoria suficiente pelo menos para distinguir o quente do frio, deve procurar um bom amigo.
“Contudo, encontrar um bom amigo é algo muito difícil. Assim, o Buda comparou esse feito à raridade de uma tartaruga de um olho só achar um tronco de sândalo flutuante com uma cavidade com tamanho certo para comportá-la, ou à dificuldade de puxar uma linha do Céu Brahma e passá-la pelo orifício de uma agulha na Terra. Além do mais, nestes maléficos Últimos Dias, os maus companheiros são mais numerosos do que partículas de pó que compõem a terra, ao passo que a quantidade de bons amigos é menor do que a de grãos de poeira que se consegue amontoar sobre a unha de um dos dedos da mão.” (As Escrituras de Nitiren Daishonin [END], vol. 6, pág. 167.)
É uma grande alegria criar laços de amizade com pessoas que nos conduzem à correta prática da fé, incentivando-nos quando estamos desanimados, apontando nossas falhas quando necessário, compartilhando suas experiências e possibilitando-nos enxergar os fatos com uma visão mais ampla. Um dos propósitos de nossa organização é ajudar as pessoas a seguir o correto caminho da prática budista.
Por outro lado, um “mau amigo” é aquele que, intencionalmente ou não, dificulta ou então impede a nossa prática. Nitiren Daishonin usou freqüentemente o termo para referir-se aos mestres budistas que, deliberadamente ou por ignorância, distorciam os ensinos budistas e desencaminhavam as pessoas. Um mau amigo também pode ser alguém que concorda conosco mesmo quando estamos errados e não nos alerta.
Contudo, fundamentalmente, somos nós que determinamos se uma pessoa é um bom ou um mau amigo, isto é, se ela encoraja ou impede nossa fé. Tomemos como exemplo uma pessoa que nos critica e que faz de tudo para impedir nossa prática budista. Se nos sentirmos desencorajados a ponto de abandonarmos a prática, foi porque permitimos que ela agisse como um mau amigo. Mas se apesar de irados, magoados e entristecidos transformarmos esses sentimentos em um ímpeto para aprofundarmos ainda mais nossa fé no Gohonzon, foi porque enxergamos nessa pessoa um bom amigo.
O próprio Nitiren Daishonin demonstrou que isso é uma grande verdade. Ele disse: “Os melhores agentes positivos que ajudaram Nitiren a atingir a iluminação foram Tojo Kaguenobu, os bonzos Ryokan, Doryu e Doamidabutsu, Hei no Saemon e Hojo Tokimune. Sem eles, Nitiren não poderia ser o devoto do Sutra de Lótus.” (END, vol. 1, pág. 171.) O ideal seria considerarmos tudo que nos ocorre, os acontecimentos bons e maus, como um motivo para aprofundarmos a fé, tornando todas as pessoas que se relacionam conosco nossos bons amigos e, o mais importante, procurarmos ser bons amigos para aqueles que nos rodeiam.

Bodhisattvas da terra

Bodhisattvas da terra


Bodhisattva é o nono dos Dez Mundos ou Dez Estados da Vida (Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranqüilidade, Alegria, Erudição, Absorção, Bodhisattva e Buda).
Bodhi significa “sabedoria do Buda” e sattva, “seres sensíveis”. De acordo com a escritura budista Butsujikyo Ron, sattva também significa “valor”.
O estado de Bodhisattva é caracterizado pelas ações altruísticas, por uma conduta abnegada, por um forte desejo de querer salvar os outros de seus sofrimentos, de atingir a própria iluminação e ao mesmo tempo conduzir as demais pessoas a essa suprema condição de vida.
No 15º capítulo do Sutra de Lótus, Yujutsu (Emergindo da Terra) é narrado o aparecimento de incontáveis bodhisattvas que surgem da terra.
Tendo acabado de expor a primeira metade do Sutra de Lótus, Sakyamuni perguntou à audiência: “Quem propagará o Sutra de Lótus neste mundo saha após a minha morte?” Muitos dos discípulos do Buda, que haviam ouvido seus ensinos, declararam: “Nós certamente o propagaremos.” Entretanto, o Buda rejeitou-os dizendo: “Não podem propagar este sutra porque não são persistentes o suficiente para vencer os grandes obstáculos da era maléfica que virá após a minha morte.” Assim tendo dito, muitos bodhisattvas surgem da terra, liderados por Jogyo. Sakyamuni encarregou a eles a propagação da Lei Mística. Dessa forma, as pessoas que assim procedem, propagando a Lei em nossos dias, nada mais são que os próprios Bodhisattvas da Terra.
A “terra” de onde eles vieram é o Nam-myoho-rengue-kyo ou a natureza de Buda existente em tudo no Universo. Os Bodhisattvas da Terra fazem do Nam-myoho-rengue-kyo ou da natureza de Buda a base de suas ações. Propagam a essência do budismo neste mundo turbulento, aliviando as pessoas de seus sofrimentos.
O presidente da SGI, Daisaku Ikeda, discorre sobre as ações dos bodhisattvas da seguinte maneira: “O bodhisattva segue a promessa de salvar os outros e baseia todas as suas ações nessa promesa, o que é uma forma espontânea e livre de manifestar seu altruísmo. Essa promessa não é mera manifestação de seu desejo ou determinação, mas um compromisso que define para quem o bodhisattva devotará todo o seu ser. O bodhisattva se recusa a ser dissuadido ou desencorajado pelas dificuldades criadas por esse desafio. O Sutra de Lótus fala de um puro lótus-branco que nasce nas águas de um lago lamacento. Essa analogia descreve o puro e poderoso estado de vida conquistado em meio à realidade tantas vezes degradante da sociedade. Dessa forma, o bodhisattva nunca foge da realidade, nunca deixa as pessoas sofrendo sem ser aliviadas e mergulha nas águas turbulentas da vida num esforço para ajudar cada pessoa que está se afogando no sofrimento a alcançar o grande navio da felicidade.”1 Essa é uma descrição moderna dos Bodhisattvas da Terra. Podemos melhor compreendê-la fazendo uma associação com a atuação dos membros da SGI.
Em 1975, ano em que a SGI foi instituída, o presidente Ikeda fez o seguinte apelo a todos os seus integrantes: “Não vamos almejar louvor nem glória, mas sim dedicar nossa vida ao plantio de sementes da Lei Mística em prol da paz em cada canto do mundo.”2
Por “terra” podemos entender os países e regiões do mundo inteiro, ou seja, o local do cumprimento da nossa missão. Por meio da atuação dos membros da SGI, o Budismo de Nitiren Daishonin foi propagado para 181 países e territórios.
Um sutra afirma que uma pessoa passa por 804 mil estados de espírito num único dia (cf. Gosho Zenshu, pág. 471.) Da mesma forma, nossa mente é invadida por inúmeros pensamentos. Como podemos então atingir uma condição elevada de vida e abrigar em nossa mente pensamentos cheios de benevolência e altruísmo como os de um bodhisattva? O único meio é exercitando a condição de bodhisattva em nosso dia-a-dia até torná-la parte de nós. A prática do Gongyo e do Daimoku e o empenho na realização do Chakubuku são algumas dessas formas.
No final do 16o capítulo do Sutra de Lótus, Juryo (Revelação da Vida Eterna do Buda) consta: “Medito constantemente: Como posso conduzir as pessoas ao caminho supremo e fazer com que adquiram rapidamente o corpo de um buda?” Nessa frase está expresso o desejo único do Buda. Ela revela também a conduta de um bodhisattva. Dessa forma, quando agimos como bodhisattvas estamos trilhando o caminho direto para o estado de Buda ou iluminação.

As Barragens da Fé (Parte 2)

As Barragens da Fé (Parte 2)

Trecho do Gosho

Deve fazer agora um grande juramento e orar por sua próxima existência. Se a senhora desacreditar ou caluniar o ensinamento correto, o mínimo que seja, certamente cairá na grande cidadela do inferno de incessantes sofrimentos. Imagine um barco navegando em alto-mar. Mesmo que o barco seja de construção sólida, se uma fenda se abrir e a água começar a infiltrar nele, todos os que estão a bordo naufragarão juntos. Apesar de a barragem entre os campos de arroz ser resistente, se uma formiga cava um orifício de um lado a outro, com o tempo, a água escoará e esvaziará o arrozal. Tire do barco de sua vida a água salgada da calúnia e da descrença, e solidifique as barragens de sua fé.”
(CEND, v. I, p. 654; Terceira Civilização, ed. 566, p. 60)

Vamos entender

Na continuação do escrito As Barragens da Fé, vamos estudar sobre a importância de fortalecer a nossa fé para não permitir que criemos dúvida em relação à nossa prática diária. Conforme foi abordado na primeira parte desta matéria, dois pontos são fundamentais para impedir que a maldade influencie nossa prática: 1. fortalecer a nossa fé; 2. ensinar o budismo para outras pessoas.

Cenário histórico

Esta carta foi escrita no Monte Minobu no nono mês de 1275 e enviada para a monja leiga Sennichi. No passado, tanto ela quanto seu esposo Abutsu-bo, foram praticantes da Escola Budista Terra Pura (Nembutsu) e se converteram aos ensinamento de Daishonin no período em que o Buda esteve exilado.
Nessa parte do escrito, Nichiren Daishonin trata da importância de fazer um grande juramento e de jamais duvidar desse ensinamento para que se possa alcançar o estado de buda, e de que fortalecer a fé é a melhor forma de jamais ser dominado pelas funções da maldade.

Ter uma sólida fé

Nichiren Daishonin utiliza o exemplo de um barco navegando em alto-mar para ilustrar nossa própria prática budista e diz que, mesmo que a construção deste barco seja sólida, caso abra uma fenda, todos a bordo afundam. A fenda no barco representa a dúvida e a calúnia que devemos combater a todo momento por meio da fé, da prática e do estudo. Enfrentar a calúnia é como reforçar esta embarcação que nos guiará para uma vida repleta de grandes vitórias.

A importância de ter um mestre!

Um ponto que podemos observar nos escritos de Nichiren Daishonin é que contêm o sincero sentimento de que todos os seus discípulos fossem verdadeiramente felizes, e que por causa de sua nobre compaixão não poupava esforços para incentivar cada pessoa. Podemos ver também o grande espírito de procura de cada um dos discípulos, como a monja leiga Sennichi, que neste escrito perguntou a Daishonin sobre as consequências dos atos de se caluniar o Sutra do Lótus.
Fica clara então a importância da unicidade de mestre e discípulo nos ensinamentos de Daishonin. Nos dias atuais quem nos incentiva e nos direciona a ultrapassar todas as dificuldades é Ikeda sensei.

Fortalecendo a mim e aos outros

Como fortalecer nossa fé sem permitir que a maldade domine nosso coração? Não é uma tarefa fácil, exige dedicação na prática da fé!
No entanto, os presidentes Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e Daisaku Ikeda construíram a Soka Gakkai para que seja uma organização que mantenha a chama da fé e da coragem sempre acessa.
Ikeda sensei orienta: “Fé significa ‘avanço corajoso e ininterrupto’ (Yumyoshojin). Fé é recitar com vigor o Nam‑myoho‑renge‑kyo e avançar sem esmorecer sequer um pouco, imbuído da mais resoluta coragem. Se o espírito do “avanço corajoso e ininterrupto” estiver brilhando dentro do coração, a grandiosa energia vital rejuvenescedora e imortal emanará continuamente do âmago da nossa vida” (Brasil Seikyo, ed. 2.173, 29 mar. 2013, p. A2).
Ao participarmos das atividades da Gakkai e seguirmos as orientações do presidente Ikeda, conseguimos criar uma sólida barragem que não é abalada por nada. Além disso, quando compartilhamos o budismo, seremos agentes positivos atuando em prol da melhoria da sociedade por estarmos criando uma rede de pessoas cada vez mais inabaláveis e fortalecendo nossa própria convicção!