Série de incentivos do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, direcionada à DE-Herdeiro e DE‑Esperança, publicada no jornal Mirai em junho de 2014
Um dos maiores pianistas brasileiros e meu amigo pessoal Amaral Vieira certa vez disse: “Podemos considerar como nosso lar todos os lugares em que encontramos amigos verdadeiros”. Eu me sinto exatamente assim e, partindo dessa afirmação, tenho lares por todo o Japão e ao redor do mundo – dentre ales o Brasil – onde tenho amigos cheios de vitalidade e alegria que têm um lugar especial em meu coração.
Enquanto no céu azul as nuvens brancas sorriam, a terra coberta por um tapete verde se estendia até onde os olhos podiam alcançar. Árvores e flores conversavam silenciosamente com a brisa leve e os pássaros e borboletas batiam as asas como sinal de felicidade.
Em fevereiro de 1993, visitei o Centro Cultural Campestre da BSGI (CCCamp), localizado na Grande São Paulo, com uma vista magnífica de sua área florestal. Na ocasião, mais de vinte espécimes de flores estavam florescendo, dentre elas lótus, girassóis e cosmos. Elas haviam sido cultivadas e cuidadas sinceramente pelos membros.
Além de tanques com trinta espécimes de peixes do Oceano Atlântico, Mar do Caribe e tipos raros da Amazônia, a BSGI criou um centro de conservação ecológico dedicado a promover a coexistência harmoniosa entre ser humano e natureza.
Sempre que tinha tempo durante minha estada no Centro Cultural Campestre eu passeava nesse paraíso verde e cheio de flores conversando com os jovens. Uma área com uma beleza única brilhantemente iluminada pelo sol era o bosque de quaresmeiras roxas e rosadas.
Segundo dizem, as quaresmeiras têm o nome Glory trees, em inglês, e são oriundas da América do Sul. Elas podem ser vistas em vários lugares de São Paulo, com suas flores exalando vitalidade em direção ao sol em meio às suas folhas verdes. Nossos associados brasileiros também convivem com vários sofrimentos e adversidades mas possuem uma vida de glória, assim como o nome dessa árvore demonstra.
Parecia que as flores cantavam em gratidão à vida florescendo ao máximo, em sua forma mais singular, sem se importar se eram ou não vistas pelos outros. É por essa razão que elas atraem as pessoas e as fazem sorrir. Do mesmo modo, pessoas alegres iluminam aquelas ao seu redor. A energia positiva delas e o espírito de desafiar-se são transmitidos e se espalham às outras. Pessoas alegres são capazes de superar qualquer adversidade
ou obstáculo.
O ditado popular no Brasil “Quem canta seus males espanta!” traduz o espírito do povo brasileiro. Significa que todos nós enfrentamos experiências dolorosas e tristes, porém, devemos cantar mais alto e rir das nossas preocupações. Se parecer que a situação não tem solução, vamos criar a esperança a partir de nós!
Sendo o maior país da América do Sul, o Brasil é visto como uma das grandes nações do futuro. Muitas pessoas são atraídas pelos vastos campos de suas terras, assim como por seu meio ambiente e miscigenação das raças, como se fossem fios de um tear. Admiro a gentileza e o otimismo inebriante do povo brasileiro.
A Copa do Mundo FIFA 2014 começará em breve [junho, 2014], o Brasil é conhecido mundialmente como o país do futebol e por seu povo extrovertido e acolhedor — todos se tornam amigos com apenas uma bola.
O Carnaval do Rio também é mundialmente famoso. Durante esse período, milhares de pessoas se vestem com fantasias e vão para os desfiles e blocos de rua, dançando ao ritmo do samba.
Eu me lembro com carinho quando fui ao Festival Cultural do Rio em fevereiro de 1993 encorajando os participantes com um instrumento típico do samba em minhas mãos.
Nichiren Daishionin orienta: “Quando um grande mal ocorre, um grande bem o sucederá. O que qualquer um dos senhores tem a reclamar? Mesmo que você não seja o venerável Mahakashyapa, deve pular de alegria! Embora não seja Shariputra, deve levantar-se e dançar! Quando o bodisatva Práticas Superiores emergiu da terra, ele não emergiu bailando?” (WND, v. I, p. 1119).
Do ponto de vista do budismo, encontrar problemas é sinal de vitória garantida no futuro. Por essa razão, por mais que as coisas estejam difíceis, devemos encará-las alegremente e se empenhar arduamente com a certeza de que enfrentando nossos problemas temos a chance de transformar nossa vida rumo a uma trajetória grandiosa. É isso que o Budismo Nichiren ensina. Uma fé inabalável transforma sua maior dificuldade em oportunidade.
O nome “Nichiren” é composto por ideogramas chineses de sol (nichi) e flor de lótus (ren). Nada é mais brilhante que o sol e nada é mais puro do que a flor do lótus. Quando recitamos Nam‑myoho-renge-kyo, a essência deste budismo, nossa vida brilha como o sol e floresce de forma deslumbrante como a mais pura flor de lótus.
Nascemos neste mundo para sermos vitoriosos. Recitar daimoku nos dá forças para viver cada dia e triunfar, não importando quais dificuldades enfrentaremos no caminho.
Certa vez disse para os amigos brasileiros que estavam enfrentando várias dificuldades: “Nós devemos crescer fortes. Devemos nos tornar árvores poderosas, que não se abalam nem pelos ventos mais poderosos – pelo contrário, se deliciam com as tempestades… Uma árvore cresce aos poucos, embora isso seja imperceptível. Assim como nosso daimoku, que a cada dia nutre nosso crescimento, tornando-nos grandes ‘árvores’ cheias de boa sorte, mesmo que não consigamos perceber”.
Nichiren Daishionin descreve a recitação do Nam-myoho-renge-kyo como “a maior das alegrias” (OTT, p. 212). Essa alegria fará com que se tornem uma pessoa notável, como uma grande e forte árvore. Para aqueles que possuem uma vida de esperança, não há recuo ou derrota. Essas pessoas serão capazes de avançar sempre à frente, rumo a uma vida de triunfo, cheia de felicidade, otimismo e autoconfiança. Aqueles que são alegres vencem no final.
Austregésilo de Athayde (1898–1993), na época presidente da Academia Brasileira de Letras, foi um grande amigo pessoal a quem tenho profunda admiração e respeito. Ele corajosamente empunhou sua caneta para lutar pela justiça. Um autêntico guerreiro das palavras escritas que foi exilado e mandado à prisão pela ditadura militar vigente no período e se recusou a ser derrotado pela perseguição que sofria.
Mais tarde, como representante do Brasil, ele contribuiu com o esboço da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que se inicia com as seguintes palavras: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”.
Athayde foi um sábio campeão da dignidade da vida, admirado por muitos ao redor do mundo. Ele estava com 94 anos quando o encontrei em fevereiro de 1993. Ele percorreu um grande caminho até me encontrar no aeroporto do Rio de Janeiro. Eu ainda me lembro vividamente de suas palavras em nosso primeiro encontro: “Vamos nos unir para mudar a história da humanidade”.
Os direitos humanos começam com o cuidado de uns com os outros. Zelar pelos nossos pais é um passo a essa direção. Ele mesmo sempre zelava muito bem pelos pais. Lembrando-se da mãe, Athayde disse: “Minha mãe tinha tanta disposição como o próprio sol, e sempre ria”,¹. E acrescentou: “O que tornou minha mãe forte foi a alegria de cuidar de seus doze filhos e ensinar a eles a felicidade da vida, e também para seus netos e outras crianças”.²
Não consigo evitar de me lembrar das mães que estão dando duro pela felicidade e bem‑estar de amigos na localidade. As pessoas que encontram alegria em transmitir essa felicidade para as outras são realmente felizes. Elas são felizes, de pensamento positivo e fortes.
Superando vários obstáculos, Athayde persistiu na luta pelos direitos humanos e pela justiça. Ele era um homem de forte convicção e inabalável como uma rocha; além disso, tinha um sorriso muito bonito. Amava dialogar com os jovens, e suas palavras eram acompanhadas de um forte otimismo e um maravilhoso senso de humor.
Ele enfatizava que é importante acreditar no futuro sem se importar se o presente estiver ruim.
É difícil acreditar no futuro ao se deparar com obstáculos e dificuldades. Entretanto, por favor, não desistam! Este é o momento de recitar daimoku e se encorajar. Acreditem em sua preciosa missão e no futuro. É este o caminho para dissipar as nuvens de sofrimento e fazer com que o sol brilhe no coração iluminando tudo e todos ao seu redor. Esse poder do acreditar e esse poder da fé trarão a luz de esperança para toda a humanidade.
Um escritor brasileiro, que também era membro da Academia Brasileira de Letras, Paulo Coelho, disse: “Nunca se esqueça disto: todos vocês são muito mais do que acreditam ser”.
Mesmo se acham difícil acreditar em si mesmos, eu acredito! Seus familiares e sua família Soka estão apoiando vocês. Por favor, sigam em frente corajosamente, sem pressa, rindo de suas preocupações!
Em 1960 ocorreu minha primeira visita ao Brasil, em minha primeira viagem pelo mundo em busca da paz mundial. Minha segunda visita ao país aconteceu em 1966. Tentei uma terceira visita em 1974, mas a ditadura militar brasileira se recusou a fornecer meu visto, então fui forçado a mudar meus planos.
Os primeiros membros no Brasil até então enfrentaram a tempestade de críticas e ataques, impulsionados pelos seus esforços para contribuir com a sociedade e expandir uma rede de confiança e felicidade na localidade, uma pessoa por vez.
Fazendo “muito mais daimoku” como seu slogan, eles plantaram as sementes da Lei Mística – as sementes da felicidade e da paz – por todo o território nacional.
Em 1984, eu estava apto a fazer minha primeira visita ao Brasil após dezoito anos. Ainda posso ouvir os 20 mil membros brasileiros triunfantes no I Festival Cultural e Esportivo da Associação Brasil SGI (BSGI), entoando seu grito de vitória “É pique, é pique, é pique, pique, pique!”.
Em cada visita feita ao Brasil carregava o espírito de viajar com meu mestre, o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda. Visitei o país pela quarta vez em fevereiro e em março de 1993. Foi quando estava no Rio de Janeiro, no dia 11 de fevereiro, aniversário do Sr. Toda, que escrevi minhas considerações finais após os 12 volumes do romance Revolução Humana: “O que eu sinto que devo fazer agora é lutar no lugar do meu mestre para um propósito maior: a paz mundial e a felicidade dos seres humanos, sobreviver e completar minha missão neste mundo. Este é o caminho que eu devo seguir como seu discípulo, saldar minha dívida de gratidão com meu mestre. É esse o caminho da revolução humana que ele construiu para nós”.
Quando dedicamos nossa vida para cumprir nosso juramento ao mestre, a coragem de avançar sem temer a nada brota do fundo de nós.
Eu fico muito feliz que os integrantes da nossa Divisão dos Jovens do Brasil, verdadeiros campeões, carregam em si esse espírito.
O famoso escritor brasileiro Erico Veríssimo (1905–1975) escreveu: “O mundo é grande, e está cheio de coisas valiosas que devemos ver e fazer”. Como isso é verdade!
Espero que todos vocês aprendam com este mundo grandioso e despertem interesse em aprender uma língua estrangeira.
Vamos fazer com que as flores da amizade floresçam no Brasil e em outros países. Vamos expandir nossa rede pela paz e fazer do planeta inteiro nosso lar, cheio de amigos!