O buda vivo
Conheça a história do fundador do budismo por meio da obra O Buda Vivo, de autoria do presidente da SGI
Conheça a história do fundador do budismo por meio da obra O Buda Vivo, de autoria do presidente da SGI
“Não nos retiramos do mundo real nem desprezamos, ridicularizamos ou abominamos a sociedade, repleta de contradições. Nós nos mantemos em meio às pessoas, avançando em nossa luta no centro deste mundo real. Exatamente onde estamos — aqui e agora — é a academia da prática humanista” Dr. Daisaku Ikeda
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Reunião de Palestra em Munbai, na Índia |
Buda - Ser humano comum com extrema compaixão
Brasil Seikyo, Edição 2346, 05/11/2016, pág. C2-C3 / Conheça o Budismo
Retornem ao Shakyamuni humano
No livro O Buda Vivo, lançado em português pela Editora Record [edição esgotada], o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, analisa a vida do fundador do budismo, Shakyamuni.
“Ao longo dos anos fui gradativamente construindo uma imagem de quem acredito que deva ter sido o buda Shakyamuni, o fundador da religião budista” (Ibidem, p. 7), afirma ele na introdução.
Shakyamuni viveu há cerca de 2.500 anos na região norte-central da Índia e se devotou incansavelmente a descobrir a natureza da Lei: “Pensador de proporções gigantescas, ele persistiu nos seus esforços para desvendar a fonte da criação e libertar a existência humana de todos os impedimentos, em benefício dos seres humanos das eras posteriores” (Ibidem, p. 7).
Ao longo do livro, o presidente Ikeda insiste num dos principais temas do budismo: jamais podemos divinizar o Buda. Um ser humano, sempre — ao tratarmos o Buda como um ser distante, a faísca para a felicidade absoluta é apagada.
O maior objetivo do budismo é descobrir como é a Lei que o Buda descobriu e praticou. E desvendar a forma de outras pessoas também manifestarem no cotidiano essa mesma Lei.
Homem de bom senso que zelava pelas pessoas
O fundador do budismo era imperturbável em sua busca interior; de personalidade calorosa, respeitoso com as pessoas que precisavam de apoio e rigoroso com os líderes. Uma pessoa de bom senso, confiável e amável.
O presidente Ikeda relata: “Tenho na mente a imagem do tipo de pessoa que ele deva ter sido — um homem que, por mais pressionado que fosse para escolher entre uma proposição filosófica e outra, nunca se esqueceu de sorrir. Um sábio que, às vezes com um ar de distanciamento, em outras com um ar de orgulho, e noutras ocasiões silenciosa e serenamente percorreu imperturbável seu caminho. É essa imagem de Shakyamuni que tenho esperança de apresentar neste livro” (p. 11).
Shakyamuni não pretendia fundar uma religião — ele revelou em si a Lei última da vida e se dedicava sinceramente a cuidar de pessoas, transmitindo a elas a lei que ele mesmo havia descoberto; seu jeito de agir, sua atraente filosofia de vida e a forma como transmitia essa lei é que mais tarde foram denominadas budismo.
“Ele foi, sim, um homem que, em linguagem quase espantosamente simples e natural, utilizando pequenas histórias e analogias que podiam ser compreendidas por todos, procurou despertar em cada indivíduo o espírito que reside no ser interior de todas as pessoas. Quando fala à humanidade em sua maneira despretensiosa, percebe-se nas palavras claras e simples ecos de um outro reino, aquele de um homem realmente iluminado que lutou contra a escuridão em si mesmo e venceu, chegando à determinação final da verdade” (Ibidem, p. 12).
A beleza do livro O Buda Vivo está no esforço sincero do presidente Ikeda em apresentar a vida do fundador do budismo do ponto de vista humano. O Buda arriscou a vida por anos a fio em busca da iluminação, do reino interior mais profundo. Ao tomar contato com essa lei, se dedicou a ensiná-la com clareza, paciência e profundo respeito às pessoas, principalmente às que mais sofriam.
Um jovem humanista e buscador da verdade
Shakyamuni era filho de rei e deve ter passado pelo tipo de treinamento que o prepararia para assumir o trono do pai no momento apropriado. A lenda diz que sua mãe fez o filho receber instruções em artes civis e militares.
O clã Shakya, onde nasceu, não era tão grande nem poderoso e a expectativa no jovem era enorme. Mas Shakyamuni “era por natureza um jovem muito introspectivo e de pendores filosóficos. Acredito que o jovem Shakyamuni possa ser descrito como um humanista e buscador da verdade, que possuía um agudo senso de justiça” (Ibidem, p. 22), afirma o presidente Ikeda.
Ele se casou aos 16 ou aos 19 anos, conforme a fonte de estudo, e teve um filho chamado Rahula. Mas o jovem não conseguia banir da sua mente a profunda angústia que sentia com as questões do envelhecimento, da doença e da morte.
Aos 19 anos decidiu renunciar ao luxo e à família em busca de respostas sobre a raiz da vida. Essa escolha mudou não só a vida dele mas de toda a história espiritual do mundo. Dois professores lhe ensinaram muitas coisas mas a angústia continuava. Praticou mortificações religiosas até se reduzir a um estado de definhamento, mas ainda não conseguia chegar à essência da vida. Então, caiu em profunda meditação ao pé de uma figueira numa floresta e obteve a iluminação. Segundo fontes, foram dez anos de esforço.
O que movia Shakyamuni era seu desejo ardente de achar meios para transcender os sofrimentos inerentes à vida humana.
Iluminação é a vitória completa sobre a negatividade mental
Os últimos momentos antes da iluminação de Shakyamuni são dramáticos [Na página C4, o presidente Ikeda relata mais detalhes].
As forças negativas mentais mais profundas e amedrontadoras tentavam de tudo para fazê-lo desistir; em seu íntimo, um turbilhão de emoções — mas “ele as desafiou de frente e não arredou o pé nem um centímetro” (Ibidem, p. 66). Ele não se deixava distrair por nada e lutava concentrado em busca da sua meta.
Ao vencer a camada mais profunda da negatividade, atingiu a iluminação nas primeiras luzes do dia depois de mais uma noite inteira de busca: “ele sentiu sua vida desabrochar e num relâmpago discerniu a realidade final das coisas. Nesse momento de iluminação, ele se tornou um buda e nasceu a fé budista, que estava destinada a produzir um impacto imensurável sobre a história da humanidade” (Ibidem, p. 69).
Sua iluminação não era apenas a descoberta de um pensador ou de um gênio. A iluminação de Shakyamuni foi universal, profunda, fundamental o suficiente para transformar o destino e o sofrimento do indivíduo que a apreende: “É o único estado de vida que pode mudar o destino da pessoa e lhe abrir um futuro infinito. A iluminação por ele alcançada foi do mais alto nível possível. Que alegria, que bem-aventurança ele deve ter sentido” (Ibidem, p. 73).
Pelo resto de sua vida, o Buda esteve comprometido com o propósito de manter e propagar seu estado de vida pelo bem das pessoas.
Linhagem humanista: de Shakyamuni à SGI
“O que Shakyamuni alcançou sob a árvore Bodhi foi a apreensão intuitiva da essência da vida” (Ibidem, p. 78).
Ele viveu até o último suspiro ensinando às pessoas como manifestar a mesma condição que a dele.
Ao longo dos séculos, as pessoas divinizaram o Buda e nenhuma prática religiosa era capaz de fazer uma pessoa comum florescer em si a iluminação.
O Buda Nichiren Daishonin, no século 13, no Japão, clamou o retorno ao Shakyamuni humano e por meio do Sutra do Lótus, o principal ensinamento do fundador do budismo, revelou o Gohonzon do Nam-myoho-renge-kyo, cuja prática e propagação permitem novamente a qualquer indivíduo do povo manifestar o estado de buda. Hoje, a fé para se alcançar na vida cotidiana essa mesma condição é encontrada na SGI, a herdeira direta da linhagem humanista do budismo.
Concluísmo com a afirmação do presidente Ikeda: “A felicidade de todas as pessoas, ou seja, o estabelecimento de uma religião em prol do bem-estar dos seres humanos, é uma linhagem desde Shakyamuni, Sutra do Lótus, Nichiren Daishonin, Makiguchi sensei até a Soka Gakkai atualmente. Essa é também a linhagem da revolução religiosa — o combate à natureza demoníaca que causa o sofrimento humano” (BS, ed. 2.324, 21 mai. 2016, p. B2).
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Encontro de Daisaku Ikeda com jovens em Nova Déli, na Índia |
O desafio de Shakyamuni pouco antes da iluminação
Presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda relata os momentos decisivos de Shakyamuni ao lutar contra a negatividade da mente para manifestar o poderoso estado de buda
Presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda relata os momentos decisivos de Shakyamuni ao lutar contra a negatividade da mente para manifestar o poderoso estado de buda
POR DAISAKU IKEDA
Shakyamuni prosseguiu sua meditação sob a árvore Bodhi.
Segundo os textos budistas, nessa ocasião, os demônios começaram a tentá-lo. Os meios desonestos de que se valeram diferem de um escrito para outro, mas é interessante observar que alguns dos recursos utilizados envolviam palavras de aparente gentileza e preocupação.
Numa descrição, por exemplo, um demônio tentou influenciar Shakyamuni sussurrando-lhe suavemente: “Veja como está magro, como seu rosto está pálido. Com certeza deve estar à beira da morte. Se continuar sentado aqui desse jeito, será um milagre sobreviver”.
Depois de apontar o perigo que ele estava correndo e insistir fortemente para que vivesse, o demônio tentou persuadir Shakyamuni a seguir os ensinamentos do bramanismo, e que poderia acumular benefícios grandiosos sem ter de passar por tais sofrimentos. Os esforços de Shakyamuni para atingir a iluminação não tinham sentido, declarou o demônio.
O apelo do demônio nesse contexto pode ser acatado como uma expressão da luta feroz que estava se desenrolando na mente de Shakyamuni naquele momento.
A dúvida o assaltava, esfacelando sua paz interior e tumultuando sua mente. Com o corpo extremamente fraco e sua resistência física praticamente esgotada, o pavor da morte deve ter crescido em seu coração. O tormento mental de Shakyamuni era ainda maior, pois, percebendo que não ganhara nada com as austeridades intensas a que havia se submetido, começou a duvidar e a temer que seus esforços para atingir a iluminação no fim também se mostrassem inúteis.
Ele fora assaltado simultaneamente pelos desejos mundanos, pela fome, pelo desejo de dormir e também pelo medo e pela dúvida.
Demônios e forças diabólicas representam as ações dos desejos mundanos e das ilusões tentando abalar a mente daqueles que buscam o caminho da verdadeira iluminação. Algumas vezes, os demônios assumem a forma de apegos a desejos mundanos, ou da manifestação física da fome ou do sono. Outras vezes eles torturam a mente da pessoa com ansiedade, medo e dúvida.
Sempre que as pessoas são desencaminhadas por essas funções demoníacas, invariavelmente justificam suas falhas de algum modo. Além disso, elas se convencem de que seus pretextos são perfeitamente razoáveis e naturais.
Por exemplo, como na época de Shakyamuni ninguém ainda havia alcançado a iluminação, talvez lhe parecesse bastante razoável questionar se sua meditação sob a árvore Bodhi se mostraria inútil no fim.
Na maior parte das vezes, as funções demoníacas levam as pessoas a se agarrar a alguma conclusão aparentemente sensata que justifique suas fraquezas e necessidades emocionais. Nichiren Daishonin adverte sobre o fato citando estas palavras: “O demônio zelará por ele como um pai” (WND, v. I, p. 770).
Shakyamuni, porém, enxergou a real natureza dessas funções demoníacas e reuniu uma poderosa energia vital, afastando todos os pensamentos geradores de confusão que importunavam sua mente. Ele bradou em seu coração: “Demônios! Vocês podem vencer um covarde, mas o bravo triunfará! Lutarei! Em vez de ceder à derrota, prefiro morrer lutando!”.
Com isso, sua mente voltou a um estado de tranquilidade. O sereno véu da noite o envolveu, enquanto incontáveis estrelas cintilavam no alto com um brilho puro e cristalino.
Depois de vencer o ataque das forças demoníacas, a mente de Shakyamuni ganhou novo ânimo e vitalidade, seu espírito se tornou tão límpido como o céu azul.
Desse modo, ele despertou para a natureza eterna da vida, que se estende pelo passado, presente e futuro. Naquele instante, todos os medos e dúvidas fortemente sedimentados nas profundezas de sua vida desde o nascimento evaporaram. Ele finalmente chegara à raiz profunda e imperturbável de sua própria existência.
Shakyamuni sentiu a escuridão da ilusão desaparecer quando a radiante luz da sabedoria iluminou a sua vida. Tinha liberado dentro dele uma condição existencial semelhante à visão clara e desimpedida, em todas as direções, que se tem no topo de uma elevada montanha.
Durante um tempo, Shakyamuni simplesmente deleitou-se com o sabor de ter despertado para a verdade —, a Lei fundamental da vida e do universo — mas logo começou a se sentir cada vez mais aflito. Enfrentava um dilema: deveria pregar essa Lei aos outros ou permanecer em silêncio? Sentado à sombra da árvore Bodhi, torturou-se por vários dias com tal dúvida.
Ninguém jamais ouvira falar, muito menos explanado, essa Lei magnificente e inigualável. Havia uma lacuna imensa entre o reino resplandecente do interior de seu ser e o mundo real externo.
As pessoas viviam atormentadas temendo a doença, o envelhecimento e a morte. Consumidas pelo desejo, brigavam constantemente umas com as outras. Tudo se devia à ignorância delas acerca da Lei da vida. Mesmo que lhes ensinasse a Lei em benefício delas próprias, talvez ninguém a compreendesse.
Shakyamuni se sentiu completamente só. Era a solidão dos seres genuinamente iluminados, algo que somente aqueles, e ninguém mais, que obtiveram a compreensão de um profundo princípio, conhecem.
Um relato descreve a reaparição de demônios nesse momento para atormentar Shakyamuni. O episódio pode novamente, ser interpretado como uma luta contra as funções demoníacas de sua própria vida, que agora tentavam dissuadi-lo de ensinar a Lei às outras pessoas.
Shakyamuni não conseguia conter esse surto de dúvida e hesitação diante da ideia de seguir em frente e disseminar a Lei. A decisão sobre o que fazer o mortificava.
As funções demoníacas continuaram, portanto, a afligir Shakyamuni, mesmo após ele ter se tornado buda. Elas competiam entre si para atacá-lo por mínima brecha que encontrassem em seu coração.
Um buda não é sobre-humano. Aquele que alcança esse estado continua a vivenciar problemas, sofrimentos e dor, e ainda está sujeito a doenças e a ser tentado pelas forças demoníacas. Por essa razão, buda é uma pessoa dotada de coragem, tenacidade e ação constante, que luta incessantemente contra elas.
Por mais elevado que seja o estado alcançado por nós, sem esforços persistentes para avançar e nos aprimorar, nossa fé pode ser destruída num instante.
Em um texto budista, o deus Brahma surgiu diante do ainda indeciso Shakyamuni e rogou-lhe que pregasse a Lei a todas as pessoas. Esse episódio simboliza a poderosa determinação que brotou da vida de Shakyamuni de prosseguir e cumprir sua missão.
“Seguirei adiante!”, decidira peremptoriamente. “Aqueles que buscam aprender, com certeza ouvirão. Aqueles com poucas impurezas compreenderão. Sairei em meio às pessoas, tão envoltas pela desilusão e ignorância!”
Uma vez tomada a decisão, sentiu uma nova onda de energia fluir dentro dele. Nesse momento, o grande leão se levantou pela felicidade da humanidade.
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