Recordações de minha família
Trecho da orientação do presidente Ikeda em que ele conta detalhes de sua infância
Família grande
Nossa família era grande. Eu tinha quatro irmãos mais velhos, dois mais jovens, uma irmã também jovem e dois irmãos adotivos, perfazendo o total de doze pessoas contando com nossos pais.
Meu pai era um homem conservador, tanto que era apelidado de Senhor Teimoso. Minha mãe cuidava pacientemente dele e das dez crianças. Ela tinha forte perseverança; nunca a ouvi se lamentar de nada. Mesmo quando os negócios de cultivo de algas da família estavam em risco e quando a nossa casa foi incendiada pela segunda vez durante a guerra ela não proferiu um lamento sequer. Simplesmente continuou a cuidar dos filhos e a fazer suas tarefas domésticas.
Melancia
Certo dia estávamos reunidos para comer melancia.
Cada um recebeu uma fatia que havia sido cortada de acordo com o número de crianças ali presentes. Uma delas, quando terminou de comer o seu pedaço, disse: “Mamãe, já que a senhora não gosta de melancia, comerei a sua parte”. Ela respondeu: “Acabei de aprender a gostar de melancia”, e guardou a sua fatia para as crianças que não estavam lá. É estranho como ainda hoje me lembro da sua voz e de sua expressão tão vividamente. Penso que seja porque meu jovem coração foi tocado profundamente por seu amor e sua imparcialidade. Com base nisso, fomos tratados igualmente e ensinados a jamais fazer ou dizer algo que viesse a ferir os outros.
Com tantas crianças e tantas bocas saudáveis, minha mãe prestava muita atenção ao que iria cozinhar para nós. Ela não podia gastar muito dinheiro, mas sempre se certificava se estávamos recebendo calorias suficientes. Nenhum de nós sofreu de desnutrição. Acredito que ela se esforçava o dobro por mim porque eu era fraco e doente.
Ovos do galinheiro
Naquele tempo, tínhamos apenas uma galinha e seus ovos eram distribuídos de acordo com a nossa idade, a começar pelo mais velho. Com todas aquelas crianças, não seriam poucos os dias até que o mais jovem conseguisse o seu. Ele sempre visualizava esse dia, pensando que nunca chegaria; era exatamente assim que acontecia.
Um dia, a criança cuja vez chegara foi até o galinheiro pegar seu ovo. Ali encontrou não um mas quatro ovos. Então, chegou eufórica em casa dizendo: “A galinha botou quatro ovos hoje!”. Todas as crianças bateram palmas alegremente com essa sorte inesperada. Na realidade, minha mãe havia acordado cedo, saído e comprado ovos extras e os colocado no ninho. No café da manhã, ela se sentou sem dizer uma palavra, estava nitidamente feliz ao ver a expressão de alegria no rosto de seus filhos. As recordações que guardo da minha mãe são a de uma mulher de poucas palavras que conseguia expressar sua grande afeição por nós. Seus sentimentos conosco excediam em muito os demonstrados pelas “mamães educadoras” de hoje.
Não causar problemas e não mentir
Orgulho-me profundamente dessa mulher que foi capaz de partilhar seu amor igualmente com todos os seus dez filhos. Lembro-me vividamente da forma como ela nos dizia "Não causem problemas para os outros” e “Não mintam”. Suas palavras naqueles velhos tempos ficaram gravadas em meu coração e jamais as esqueci.
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