O reflexo

Oano novo mal havia começado e a pequena Ju percebia alguma coisa diferente acontecendo: “Sinto uma vontade louca de fazer as coisas” – dizia dando os seus famosos e incontroláveis passinhos entre as cadeiras da cozinha.

No outro canto da cidade, uma moça de uns 25 anos tinha uma vontade muito parecida com a de Ju, só que com um sentimento um pouco diferente: “Adultos não sentem essas coisas” – pensava ela. Sem conseguir se segurar, ela começava a dançar na sala de sua casa.

Os dias foram passando e as vontades das duas ficavam cada vez mais intensas e tudo que a Ju fazia, a moça mais velha também fazia. Se a Ju devorava um biscoito de chocolate, conversava e ria com seus amigos, realizava os deveres com muita rapidez para poder dançar mais, a jovem do outro lado simplesmente repetia – parecia mágica.

Nas semanas seguintes elas tiveram dias ruins e tristes, tanto a menina quanto a moça. Era difícil sentir aquele aperto no coração e não ter vontade de chorar. No entanto, sempre que a garota sentia essa tristezinha, logo pensava que ela era muito forte e que tudo ficaria bem. Sorte da moça que também possuía essa força e conseguiu vencer seus dias ruins. E assim, sem saber, Ju foi fazendo tudo com muita alegria mudando todos os dias da moça, que repetia tudo.

Até que um dia, passeando no parque, Ju queria muito ver o lago – tal como a moça que também passeava pelo parque. Ao chegar à borda, a garotinha debruçou-se e viu seu rosto refletido no lago. A moça, repetindo exatamente a mesma ação, também agachou para olhar seu reflexo no lago. Nessa hora, viu a Ju, a criança que ela foi um dia...