domingo, 13 de agosto de 2017

Os Dez Estados da Vida e a Possessão Mútua


soka gakkai



Os Dez Estados da Vida e a Possessão Mútua

1ª parte

Os Dez Estados da Vida, também chamados de “Dez Mundos”, indicam as dez condições de vida que o ser humano experimenta em seu dia a dia. É uma análise dos fenômenos que uma vida manifesta no decorrer de sua existência.
Originalmente, os Dez Mundos significavam o lugar em que cada pessoa renascia em várias existências como consequência do carma acumulado. Por exemplo: no mundo da Tranquilidade (Humanidade) como ser humano, no mundo da Animalidade como um animal e no mundo da Fome como um espírito faminto e assim por diante. Porém, à luz do Sutra de Lótus, os Dez Mundos são considerados os vários estados ou condições que uma pessoa manifesta em cada momento de sua existência. Os Dez mundos descrevem as sensações subjetivas experimentadas pelo “eu” no âmago da vida.
É importante salientar que os Dez Estados da Vida não se manifestam numa sequência do mais baixo ao mais elevado na vida das pessoas, como se subíssemos uma escada, e nem deve ser considerado separadamente. Em função de fatores externos e de sua intensidade, subitamente podemos sair do estado de Alegria para o estado de Inferno, ou vice-versa, ou seja, não é preciso vivenciar os estados de Ira, Animalidade, Fome para manifestar o estado de Inferno. E nem devem ser considerados separadamente porque em razão da “Possessão Mútua” (Jikkai Gogu) cada um dos Dez Mundos contém em si todos eles.
Em um discurso, o presidente da SGI, Daisaku Ikeda, explica: “As palmas das mãos juntas representam a fusão da realidade e da sabedoria — a fusão da nossa vida com a Lei Mística — ao passo que o encontro dos dedos das duas mãos representa a possessão mútua dos Dez Estados. Isso significa que nenhum dos Dez Estados — isto é, Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranquilidade, Alegria, Erudição, Absorção, Bodhisattva e estado de Buda — está separado do outro. É exatamente por isso que o poder do estado de Buda se manifesta nos outros nove estados na nossa vida diária”. (Brasil Seikyo, edição no 1.484, 14 de novembro de 1998, pág. 4).
Os estados de Inferno, Fome, Animalidade e Ira são conhecidos como “Os Quatro Maus Caminhos”.
Estado de Inferno (Jigoku): Indica um estado destituído de liberdade onde a pessoa é completamente guiada e/ou influenciada pelo seu mau carma. Constitui-se de muito sofrimento, caracterizado pelo impulso de destruir a si próprio assim como todos e tudo que estiver em seu caminho.
Estado de Fome (Gaki): Nitiren Daishonin cita em seus escritos “O Verdadeiro Objeto de Devoção” que a ganância existe no mundo da Fome. Nessa condição, a pessoa é governada pelos desejos insaciáveis, incluindo não só desejos materiais como também o desejo de obter a fama. Sofrem muito, pois nunca estão satisfeitas. As causas para se chegar nessa condição de vida são atribuídas às tendências negativas como avareza, ganância e inveja.

Os Dez Estados de Vida e a Possessão Mútua

2ª parte

O terceiro estado da vida, Animalidade (Tikusho), conforme consta no escrito “O Verdadeiro Objeto de Devoção”, é a insensatez. Nesse estado, a pessoa é escrava dos desejos do instinto e perde o sentido da razão. Em “Carta à Niike” consta: “Animal é matar ou ser morto”. O critério das ações daqueles no estado de Animalidade é a luta pela sobrevivência, a lei da selva. As pessoas deste estado tomam vantagem dos fracos e adulam os mais fortes.
Sobre o estado de Ira (Shura), o Buda Nitiren Daishonin afirma: “A perversidade existe no estado de Ira”. Neste estado, a pessoa é dominada pelo egoísmo, desprezando os outros e exaltando a si próprio. Apega-se fortemente à ideia de sua superioridade e não suporta ser inferior a ninguém em nada. Enquanto as pessoas nos três estados anteriores não têm controle sobre a vida, pois estão completamente dominadas pelos desejos, a pessoa em estado de Ira já possui o controle sobre a própria vida, é como um falcão procurando pela presa. Ele poderá “mostrar” externamente benevolência, retidão, justiça e ter inclusive um rudimentar senso de moral, porém, o seu coração permanece no estado de Ira.
Estado de Tranquilidade ou Humanidade (Nin): O Buda Nitiren Daishonin afirma: ”A serenidade existe no mundo da Humanidade”. Neste estado a pessoa possui senso de moral, pode expressar seu julgamento justo, pensar racionalmente, controlar seus desejos instintivos por meio da razão e portar-se de modo humano, no entanto, podem cair facilmente nos quatro maus caminhos por qualquer circunstância adversa da vida.
Estado de Alegria ou Céu (Ten): O Buda Nitiren Daishonin afirma em “O Verdadeiro Objeto de Devoção” que o estado de Alegria existe no mundo do êxtase. Existem vários tipos de alegrias, por exemplo, aquelas em que as pessoas sentem quando suas vontades imediatas são satisfeitas. Existem aquelas que incluem sensação de bem-estar, saúde e energia, e também aquela alegria que decorre de satisfação e contentamento espiritual. Todas as alegrias citadas acima são efêmeras e desaparecem com o passar do tempo, pois são governadas pelas influências externas.
Os seis estados citados até o momento são chamados de “Seis Mundos Inferiores”, pois eles aparecem automaticamente e instintivamente de acordo com os vários desejos e suas manifestações ou frustrações. A maioria das pessoas passa o seu tempo indo e vindo entre esses seis mundos. Ao contrário, os quatro nobres caminhos — Erudição, Absorção, Bodhisattva e Buda — são os mais elevados, e para atingi-los são necessários a autorreflexão e esforço consciente na transformação de si próprio.
Estado de Erudição (Shomom): Homens de erudição significavam, originalmente, aqueles que ouviram o Buda pregar os ensinos e esforçavam-se para eliminar os desejos mundanos e atingir a iluminação. É a condição de vida em que a pessoa busca o contentamento e a estabilidade por meio da autorreforma e do desenvolvimento próprio. Busca conhecimentos e experiência de seus predecessores.

Os Dez Estados da Vida e a Possessão Mútua

3a parte

Estado de Absorção (Engaku): ­Significa o despertar por si próprio. A pessoa nesse estado compreende algumas verdades, independentemente dos ensinos budistas, e as usa principalmente para beneficio próprio. O Buda Nitiren Daishonin afirma: “O fato de todas as coisas no mundo serem transitórias é perfeitamente claro para nós. Não seria porque os mundos dos dois veículos estão presentes no mundo da Tranquilidade?”. Os dois veículos (estados de Absorção e Erudição) são os que a pessoa desperta para o fato de que a vida é transitória. E ao refletir baseando-se nessa verdade, a pessoa liberta-se de ser controlada pelas condições mutáveis e pelos desejos inatos como aqueles dos seis maus caminhos, e estabelece uma certa independência. Entretanto, o despertar das pessoas nos dois veículos é dirigido somente para sua própria salvação.
Estado de Bodhisattva (Bosatsu): Bodhi significa sabedoria do Buda, e sattva, seres sensíveis. Ou seja, seres sensíveis com sabedoria de Buda. O estado de Bodhisattva é caracterizado pelas ações altruísticas. O Buda Nitiren Daishonin afirma: “Aqueles no estado de Bodhisattva vivem entre os mortais comuns dos seis caminhos e humilham-se respeitando os outros. Os bodhisattvas atraem as maldades para si e dão benefícios aos outros”. 
Todos os bodhisattvas fazem quatro grandes juramentos quando tentam pela primeira vez a prática de bodhisattva para atingir a iluminação. (1) transportar todas as pessoas através do mar de sofrimento para a distante praia da iluminação; (2) erradicar todos os desejos mundanos (não ser dominados por eles); (3) dominar todos os ensinos budistas (compreender com a vida os ensinamentos); (4) atingir a suprema iluminação.
Estado de Buda (Butsu): É a condição de liberdade perfeita e absoluta, o supremo estado em que se compreende o Caminho do Meio. É a condição de felicidade absoluta que nada pode corromper. O Buda compreende a lei da causalidade permeando o passado, o presente e o futuro e a eternidade da vida agindo espontaneamente para o bem dos seus semelhantes. 
Da mesma forma que nenhum estado de vida é estático, o estado de Buda é experimentado no decurso das contínuas atividades altruísticas diárias. Portanto, não se deve considerá-lo como um objetivo máximo a ser atingido somente no final da vida, mas algo a ser alcançado todos os dias.
Os Dez Estados de Vida estão inerentes na vida de todas as pessoas. No escrito “O Verdadeiro Objeto de Devoção”, o Buda Nitiren Daishonin afirma: “Mesmo um frio vilão ama sua esposa e filhos. Ele também tem o estado de Bodhisattva dentro de sua vida. O estado de Buda é o mais difícil de demonstrar, mas desde que os outros nove mundos na realidade existem como estados da vida humana, o senhor deve ter fé de que o estado de Buda também existe dentro da sua vida”. 

Os Dez Estado de Vida e a Possesão Mútua

4a e última parte

Como dito anteriormente, cada um dos Dez Mundos (Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranquilidade, Alegria, Erudição, Absorção, Bodhisattva e Buda) contém em si os outros nove estados da vida. 
Este princípio expressa a realidade da vida de que nenhuma das dez condições é estável, mas que mudam de momento a momento. A “possessão mútua” explica a relação dos dez mundos, como cada um deles muda da inatividade para a manifestação ativa e vice-versa. 
Em um discurso, o presidente da SGI, Daisaku Ikeda, explica: “Tanto a função do ‘demônio’ como a função do ‘Buda’ existem na nossa vida. Por fim, essa batalha significa lutar contra nós próprios. Seja em nossa prática budista, em meios às atividades na sociedade ou no desenvolvimento histórico, político e econômico, tudo se reduz essencialmente à luta entre as forças positivas e negativas, pois todas essas atividades são manifestações da Lei Mística, ou myoho — myo representando o mundo do estado de Buda, e ho, os nove mundos. A Lei Mística incorpora a possessão mútua dos Dez Estados — a verdade de que o estado de Buda contém os nove mundos e que os nove mundos contêm o estado de Buda. (Brasil Seikyo, edição no 1.438, 15 de novembro de 1997, pág. 3.)
Ou seja, todos os fenômenos do Universo são funções ou manifestações do princípio da possessão mútua dos Dez Estados, do princípio dos cem mundos e mil fatores, e do princípio de um único momento da vida que abarca os três mil mundos (itinen sanzen). Tudo reflete a causalidade dos Dez Estados. Em nosso íntimo, há uma constante e eterna luta entre o bem e o mal. Um drama de um desesperado cabo-de-guerra entre a felicidade e a miséria, entre o progresso e o declínio. 
A vida é uma sucessão de eventos. Existem dias alegres, outros tristes. Às vezes, acontecem coisas desagradáveis. Mas conforme observa o presidente Ikeda, é isso o que torna a vida tão interessante. Os dramas por que passamos são uma parte essencial do ser humano. Se na vida não houvesse sofrimento, nenhuma mudança nem dramas, se nada de inesperado acontecesse, seríamos simplesmente robôs, vazios de sentimento. Seria insuportavelmente monótono e tedioso. “O sofrimento é inevitável. Por isso, é preciso estar preparado para as adversidades e ter fortaleza interior para superar a angústia e a preocupação. É preciso fazer brilhar na própria vida a ‘luz serena da iluminação’, ou seja, o estado de Buda. Assim, os desejos mundanos se transformarão em iluminação e pode-se aproveitar tudo o que acontece na vida como se fosse um combustível para alimentar a própria vida.” (Ibidem, edição no 1.837, 25 de março de 2006, pág. B2.)
A visão positiva da vida ensinada no Budismo Nitiren nos possibilita a desenvolver uma forte personalidade para que possamos atuar com confiança e equilíbrio diante de qualquer vicissitude, tendo uma existência plena e satisfatória.

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